M.L: Como é que está a correr a sua passagem por Santa Maria da Feira?
M.A: Está a correr muito bem. Já visitei uma escola e estou a dividir-me aqui com entrevistas também e estou à espera do espetáculo com grande expectativa.
M.L: Qual é a sua opinião sobre o concelho de Santa Maria da Feira?
M.A: Eu conheço muito pouco, mas naquilo que eu tenho podido apreciar sobretudo hoje também em viagem, eu acho que é um concelho que tem desenvolvido bastante e que tem uma dignidade muito grande até na apresentação de tudo desde as infra-estruturas até nos jardins e portanto acho que isso é um sinónimo também de cuidado com a sua terra e para mim é um marco importante.
M.L: Quais são as suas expectativas para o concerto de hoje?
M.A: Que as pessoas gostem, que cantem, que no fundo também se sintam parte do espetáculo. Eu acho que isso é o mais importante.
M.L: Como é que está a correr a sua digressão pelo país a propósito do seu mais recente álbum “Fadas”?
M.A: Está a começar muito bem, porque eu gosto de sair dos centros urbanos e portanto as pessoas imaginarem que as tournées tem de começar ou em Lisboa ou no Porto ou seja o que for, eu acho que é pobre e assim poder começar por exemplo em Santa Maria da Feira que é aqui o pontapé de saída, eu acho que é uma bela forma de mostrar que o país tudo tem de ter música, portanto estou feliz.
M.L: Quais são os próximos locais que irá passar?
M.A: Figueira da Foz, Ovar, Alcobaça e Guimarães.
M.L: No álbum “Fadas” homenageia fadistas que a influenciaram, durante o seu percurso como fadista como Amália Rodrigues e Hermínia Silva. Como é que surgiu a ideia de fazer este álbum?
M.A: Primeiro foram-me surgindo as músicas e de repente, quando as percorri todas isto no fundo são várias mulheres que me influenciaram e que eu estou a cantar e portanto parti desse ponto de ser uma homenagem a mulheres importantes. Depois abri realmente a ideia de “Fadas” para almas fadistas e já podia elevar os compositores, os poetas e toda a gente que acaba por fazer parte do disco também.
M.L: Em 2009, lançou-se juntamente com Viviane, Susana Félix e Luanda Cozetti no álbum “Rua da Saudade” que comemorava os 25 anos da morte do poeta Ary dos Santos. Que recordações leva desse trabalho?
M.A: Foi importantíssimo na minha carreira para já para deixar de estar sozinha em palco e como cantora. Eu acho que é muito bom podermos ter de repente companheiras e pessoas que admiramos e depois o repertório de Ary dos Santos é uma referência constante de inspiração, portanto é um privilégio sobretudo poder cantar.
M.L: Como é que surgiu a música na sua vida?
M.A: À força. Eu estava para ir para veterinária e cantava “Cheira bem, Cheira a Lisboa” e obrigaram-me a aprender mais, porque não acreditavam que eu não soubesse mais fados e eu realmente não sabia. Mas foi bem-mandada, comprei uma cassete, comecei a aprender e surgiu como uma surpresa, mas como uma surpresa que tinha que acontecer para acabar me descobrir.
M.L: Tem uma carreira internacional. Gostava de ter ficado no estrangeiro?
M.A: Eu acho que com o tipo de carreira que tenho é muito difícil sair de Portugal por períodos longos e não correr o risco de por exemplo cair aqui em algum esquecimento. Mas de vez em quando sinto esse desafio realmente de viver noutros territórios, de conhecer outras pessoas e conhecer outras formas de estar.
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou, durante o seu percurso como fadista?
M.A: Foram muitos. Eu acho que o trabalho que me marca sempre mais é o que ainda está para vir. Normalmente, quando acaba um disco ou quando acaba uma tournée, eu já estou à procura do que posso ainda fazer de melhor ou de novo e portanto não fico demasiado no passado. Gosto do histórico, gosto de saber a história que foi fazendo e estou sempre a olhar para o futuro.
M.L: Cantou o tema de genérico do remake da telenovela “Vila Faia” que foi exibido na RTP entre 2008 e 2009 da qual também fez uma pequena participação como você própria no primeiro episódio. Como é que surgiu a oportunidade para colaborar neste projeto?
M.A: Não sei, eu acho que sobretudo tem a ver um bocado também com as pessoas que se conhecem e de repente quem produzia a música da novela conhecia-me e teve essa ideia e eu fiquei muito contente, porque acho que é uma música muito especial e foi uma novela também especial nos últimos anos. Como uma das primeiras novelas feitas em Portugal foi importantíssima e repegar nela foi realmente muito bom para também mostrar às pessoas o que temos feito de bom. No fundo, portanto para mim é um privilégio fazer parte.
M.L: Gostava de colaborar mais em projetos audiovisuais?
M.A: Gostava, mas por outro lado eu acho que a minha vocação mesmo é a voz e o canto e tenho a ideia que essa ideia dos audiovisuais me vai alugar um bocadinho e portanto eu de repente me esqueço que sou cantora e vou ficar demasiado na imagem é muito absorvente. Eu acho que há sempre um perigo da pessoa cada vez que quer ir para uma zona nova e expressar daquilo que realmente gosta de fazer e portanto talvez um dia fazer realmente um filme ou qualquer coisa pode ser uma oportunidade muito engraçada. Agora se eu tiver muito jeito para a coisa também não sei se justifica estar a perder tempo do que eu realmente gosto de fazer. M.L: Como vê atualmente o fado e a música portuguesa em geral?
M.A: Vejo uma fase muito rica e com muitos talentos e coisas muito boas. Vejo um perigo tremendo também que vem deste universo da pirataria que não se pode mais ignorar e que eu acho francamente que vai pôr toda a nossa música em risco, porque estamos a deixar de ter capacidade para fazer música, para viver desta área e para nos dedicarmos a algo efervescente. Porque a nossa música está acessível a todas pessoas e as pessoas sem pudor consomem sem perceber que isso é um fator de risco de futuro para qualquer pessoa que quer ser artista, para qualquer pessoa que esteja a ser artista e portanto acho que corremos um risco infeliz. É a mesma coisa que se as pessoas assaltassem o pão de uma padaria, o padeiro não tinha dinheiro para comprar farinha, não tinha dinheiro para às máquinas, não tinha dinheiro para às pessoas e ainda ninguém viu isso a repetir.
M.L: Qual foi o concerto que a marcou até agora?
M.A: São muitos. Tenho esperança que seja o de logo à noite, mas são muitos. Eu acho que o CCB (Centro Cultural de Belém) de 2008 é um concerto muito importante para mim.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.A: Há alguns que ainda não dá para falar, porque também não estão muito concretos e uns passam sobretudo também lá por fora. Cá este ano em especial são os concertos das “Fadas” pelo país fora sobretudo e uma participação também especial no Allgarve que é um festival que realmente começa a ser muito importante em Portugal também.
M.L: Qual foi a figura da música portuguesa em geral que a marcou, durante o seu percurso artístico?
M.A: É muito difícil pensar numa figura só. A Amália (Rodrigues) começou por ser a grande referência, mas depois o ter que me afastar dela abriu-me as portas a todas outras vozes e referências também, portanto acho que há duas figuras que eu aprecio muitíssimo: o Jorge Palma e a Sara Tavares por exemplo em coisas completamente diferentes e não posso dizer que são duas maiores referências, mas são duas boas referências.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.A: Nunca penso assim muito naqueles projetos megalómanos do tipo “O que é que vou fazer?”. As coisas vão-me acontecendo… Não sei, francamente não penso muito nisso. Posso dizer que o que eu quero mais fazer é continuar a conseguir ter contato com as pessoas e portanto também que a música não me ocupe excessivamente para eu não conseguir de repente cumprimentar as pessoas, depois do concerto.
M.L: Se não fosse a Mafalda Arnauth, qual era a fadista que gostava de ter sido?
M.A: Eu não sei. Se eu não fosse a Mafalda Arnauth como fadista de certeza que não era fadista. Já estava calhado ser a Mafalda Arnauth, porque eu nunca foi fã de ser artista sequer quanto mais fadista, portanto a Mafalda Arnauth fadista foi acontecendo nos palcos e numa agenda que começou a crescer. Eu pensava ser veterinária. Ser veterinária, ser enfermeira, ser médica é realmente tudo igual, porque acho que tem gente para tudo isso, portanto a Mafalda Arnauth enquanto fadista não podia ter sido nenhuma outra e é isso talvez que os anos me tem vindo realmente a distinguir que é o meu próprio repertório ser meu faz toda a diferença.ML
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