M.L: Como é que está a correr o espetáculo “Mendes.come”?
C.A: Muito bem. Apesar de
as pessoas agora com a chamada crise irem menos ao teatro, porque as pessoas
quando cortam primeiro é nas coisas que não são bens essenciais. Apesar disso,
as pessoas têm vindo muito ao teatro, ainda ontem estivemos esgotados.
Obviamente que isso deve muito ao Fernando (Mendes), porque o Fernando é um
fenómeno de popularidade e tem um programa diário na RTP (“O Preço Certo”) e as
pessoas têm muito carinho por ele e têm curiosidade em vê-lo no teatro e depois
é bom perceber que no final, as pessoas acabam por gostar muito do espetáculo.
Isso é muito giro.
M.L: Quais são os próximos locais que o espetáculo vai
passar?
C.A: Agora vamos estar
aqui até ao primeiro fim-de-semana de Junho, mas entretanto vamos a Paris fazer
um espetáculo único no Olympia e depois a seguir temos alguns espetáculos em várias
cidades do país e depois em Agosto vamos estar um mês inteiro na cidade de
Portimão, no Teatro (Municipal) de Portimão. Vamos lá estar todos os dias no
mês de Agosto.
M.L: Como é que surgiu este espetáculo?
C.A: Fizemos um espetáculo
anterior também com o Fernando Mendes, com a mesma equipa e depois tivemos a
necessidade de fazer um espetáculo novo, porque havia pedidos para voltarmos
outra vez às mesmas cidades, aos mesmos sítios, às mesmas festas e então
fizemos um espetáculo novo para as pessoas poderem ver uma coisa diferente.
Digamos que o Fernando gosta muito de trabalhar com as pessoas da confiança
dele e quando gosta de trabalhar com as pessoas não gosta muito de mudar e isso
é muito bom para os artistas que trabalham com ele. Sentem uma grande
confiança, é uma coisa rara nos tempos que correm. É muito difícil encontrarmos
estabilidade e com ele isso acontece.
M.L: Como é trabalhar com o Fernando Mendes?
C.A: É trabalhar com um
amigo de longa data. É difícil distinguir as duas coisas, porque nós somos
amigos há muitos anos, mas é uma pessoa muito divertida, muito bem-disposta,
sempre encara a vida de uma forma positiva, mas a trabalhar é muito
profissional nos bastidores, antes de entrar, gosta que tudo esteja no seu
lugar, que as luzes estejam bem, que os microfones estejam corretos, que o som
esteja bem… Preocupa-se com tudo, se temos tudo certinho, se precisamos de
alguma coisa… É muito profissional, é muito bom trabalhar com ele.
M.L: “Mendes.come” foi criado a propósito dos 30 anos
de carreira do Fernando Mendes celebrados em 2010. Como classifica este
espetáculo?
C.A: Este espetáculo é
exatamente por isso: por comemorar a carreira do Fernando. Passa um bocadinho
pelos pontos altos da carreira dele e digamos que nós fazemos um pouco de todos
os sketches que fizeram o maior
sucesso na carreira do Fernando e alguns por coincidência também são os que
fizeram maior sucesso com o pai dele (Vítor Mendes), porque alguns foram feitos
pelo pai dele, quando o pai era vivo. Alguns que o pai fez com muito sucesso no
teatro e o Fernando agora volta a repeti-los e portanto é um espetáculo que tem
o melhor dos melhores dos sketches e
no fundo é passar um bocado pela história profissional do Fernando. É muito
giro.
M.L: Recentemente participou na 9ª temporada da série
“Morangos com Açúcar” (TVI), onde interpretou a personagem Isabel Garcia. Que
balanço faz da sua participação na série?
C.A: Foi muito giro
também. Foi uma outra experiência diferente desta, porque é televisão já para
começar e trabalhar com muita gente nova que está agora a começar a ter o sonho
de ser ator. O ambiente é excelente, os profissionais que fazem os “Morangos
com Açúcar” (eu estou a falar da equipa técnica) é uma equipa que já fazem
aquele formato há 9 anos, portanto sabem perfeitamente o que é que estão a
fazer. Isso dá muito segurança. E por outro lado tem também aquele sangue novo,
de ter muita gente nova e muito profissional, porque os atores ali não
começavam assim do nada, tinham primeiro que fazer um workshop, um curso para perceberem como é que trabalham com as
câmaras, como é que representam com naturalidade, etc. Foi muito giro, é um
ambiente muito bom, fizeram-se muitas amizades ali.
M.L: “Morangos com Açúcar” foi cancelada ao fim de
quase 10 anos de exibição. Como vê o percurso que a série fez até ser
cancelada?
C.A: Eu penso que a série
é cancelada, porque faz sentido, porque as coisas têm uma evolução natural, as
coisas evoluem e é preciso renovar e se
calhar para aquele espaço horário era preciso uma coisa diferente, uma coisa
que acompanhasse o que se faz noutros canais de televisão estrangeiros (não
sei, estou um bocadinho a tentar adivinhar, mas penso que tem um bocadinho a
ver com isso). A evolução foi excelente no sentido em que retirou-se o que não
era tão bom e tentou-se melhorar as coisas. Por exemplo, eu noto que os
primeiros “Morangos…” eram engraçados, muito inocentes, mas depois
arriscaram-se outras coisas e depois às vezes tocavam-se em assuntos que eu não
sei se eram os mais adequados aos jovens e cada vez a série se tornou mais
pedagógica no sentido em que por exemplo passavam bons exemplos nos últimos
“Morangos…”, nas últimas temporadas. Por exemplo, as personagens não fumavam,
bebiam com moderação, tinham cuidado com a linguagem, tentavam passar mensagens
ambientalistas, mensagens de humanidade, de cooperação, de ajuda aos animais e
isso tornou-se muito interessante e não deixou de ser cool na mesma. Eu acho que isso fui muito giro de observar.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
C.A: O interesse pela
representação não surgiu, o interesse pela representação digamos que já estava
na minha família. O meu pai (Carlos Areia) era ator, sempre foi ator e eu
cresci um bocadinho no meio teatral e portanto era quase inevitável para mim
gostar de teatro, gostar das artes, porque vivia nos palcos ou nos bastidores
ou nos teatros e portanto foi uma coisa que foi acontecendo naturalmente. Se
bem que na minha adolescência tinha ali uma fase em que achava que não queria
ser atriz e não queria estar ligada ao teatro, mas há coisas que parecem que já
estão escritas.
M.L: Durante o seu percurso como atriz fez teatro e
televisão, mas pouco cinema. Gostava de ter trabalhado mais nesse género?
C.A: Muito mais. Se
pudesse sim, gostava muito de fazer cinema. Gosto muito de ver cinema, sou
apaixonada por cinema e gostava muitíssimo de fazer cinema. Não tem surgido a
oportunidade, talvez é um meio um pouco distante talvez do meu apesar de ser
tudo na mesma área, mas estou sempre aberta a fazer cinema. Por acaso, é mesmo
uma área que eu gostava de desenvolver mais.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “Ajuste de Contas” (RTP), onde interpretou a personagem
Cristina. Que recordações leva desse trabalho?
C.A: Sobretudo, as
recordações que levo desse trabalho tem mais a ver se calhar com a parte
humana, com os colegas com quem contracenei, de ter contracenado com o Sr.
(Raul) Solnado por exemplo, de ter conhecido pessoas como o João Perry e estar
integrada na indústria das telenovelas é fascinante também e depois fiz grandes
amizades que lá duraram até hoje, portanto fui uma fase muito interessante da
minha vida profissional.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
C.A: O teatro e a ficção
são duas coisas um pouco diferentes, embora estejam ligadas, porque muitas
vezes os atores de ficção fazem teatro e vice-versa hoje mais do que nunca. Mas
as duas neste momento estão um bocadinho em crise, todas as áreas estão em crise.
O cinema é o que está pior, porque o cinema neste momento não tem qualquer
subsídio, foram cortados a 100%. Mas mesmo na televisão, as coisas estão
complicadas, porque a crise chega a todo o lado. Agora o que eu acho é que as
pessoas muitas vezes mesmo que gostem muito de fazer teatro devem fazer
televisão, porque a televisão chega mais depressa e a mais pessoas e para além
disso fazer televisão é muito interessante para um ator, porque é preciso
reagir de uma forma muito rápida. Às vezes é: hoje fazemos 20 textos e temos já
hoje à noite, estamos cansados, mas temos que estudar 30 textos para amanhã e
temos que conseguir fazê-lo com o melhor que conseguimos e dentro do cansaço e
isso torna-nos atores com muita rapidez. O teatro, eu gosto mais, porque há mais
tempo para se desenvolver uma personagem, para se desenvolver a peça, para se
desenvolver tudo e tem outra coisa muito boa que é pode-se usar muito mais a
espontaneidade no momento e eu acho que isso é fascinante no teatro.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
C.A: Não é uma coisa que
me preocupe muito, porque eu já fico feliz de ser atriz no meu país e até já
consegui chegar um pouco mais longe do que eu alguma vez imaginaria, porque por
exemplo nunca imaginaria que as pessoas me reconheceriam na rua. Isso nunca me
passou pela cabeça, porque eu só queria fazer teatro e nem estava à espera
disso, isso não me fascina muito. Portanto já cheguei um pouco longe e sei que
isso é fruto das pessoas gostarem do meu trabalho. Agora o ser internacional:
se acontecesse, claro era ótimo.
M.L: Como lida com o público que acompanha a sua
carreira há vários anos?
C.A: Eu gosto de estar
muito próxima deles, das pessoas que compõe o meu trabalho e uma das razões
para eu ter Facebook é para me poder aproximar um pouco mais das pessoas e
fiquei ainda muito surpreendida, quando as pessoas dizem que me conhecem de
vários trabalhos. Acho natural que as pessoas se lembrem do último, porque as
pessoas têm má memória, o público tem má memória nesse sentido. Mas depois fico
muito contente, quando as pessoas dizem que acompanham o meu trabalho, tenho
muito apreço pelas pessoas que reparam em mim.
M.L: Além da representação também é professora estando
a lecionar na escola F.A.M.E-Fábrica de Artistas. Que balanço faz da sua
atividade como professora?
C.A: Eu acho que continuo
a aprender também como professora. Gosto muito de fazer isso, acho que tenho
realmente algum talento para ensinar e sinto que os meus alunos estão
diferentes, quando terminam o curso que é aprenderam alguma coisa. Isso dá-me
um enorme gosto, por acaso dá. Eu gosto de partilhar a minha experiência com
eles e gosto de lhe dar instrumentos para eles poderem terminar bons atores
profissionais e respeitadores da nossa profissão.
M.L: Em 2009 foi capa da edição portuguesa da revista
Playboy. Como foi a experiência de ser capa de uma revista masculina?
C.A: Foi uma experiência
um bocadinho avassaladora. Talvez seja a melhor palavra, porque é um trabalho
que não está bem dentro da área do que eu estou habituada a fazer, mas eu
encarei aquele trabalho como um trabalho de atriz também. Foi assim que eu
consegui encarar aquilo de uma forma um pouco mais natural para mim, mais fácil
para mim. Acabou por ser uma experiência positiva, porque apercebi que era capaz
de ultrapassar essa barreira, esse limite. Trabalhei com excelentes
profissionais, um grande fotógrafo e no fundo foi como de passar pela
experiência de ser uma modelo num dia. Foi um bocado isso.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.A: Neste momento não
tenho muitos projetos a não ser continuar os que já tenho ou seja continuar a
fazer espetáculos com o Fernando, temos alguns projetos até ao fim do Verão e
continuar a dar alguns cursos de representação na área da escola F.A.M.E, onde
eu estou integrada. Neste momento é só isso.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
C.A: Não tenho muitas mesmo, não consigo me lembrar de
apenas uma. Gostava muito ainda de fazer pelo menos uma peça de (William)
Shakespeare que eu gosto muito, gostava de fazer uma longa-metragem que nunca
fiz, gostava de fazer um curso de representação nos Estados Unidos, porque eu
gosto sempre de aprender. Tantas coisas que eu queria fazer, muitas… ML
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