M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
P.M: Surgiu com a grande
animação dos anos logo a seguir ao 25 de Abril. A vontade de intervir, de
expressar, de comunicar, de criar e de provocar, era enorme. No final do meu
liceu, achei que o Teatro era o lugar de confluência de todos esses desejos.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
P.M: A minha maior
influência, como formação em todos os sentidos da Arte e do Teatro, foi a
escola de atores Jacques Lecoq que fiz durante dois anos em Paris. Foi aí que
alicercei todas as minhas bases e pontos de partida para o que fui fazendo ao
longo da minha carreira. Para além disso, os inúmeros criadores e espetáculos
me marcaram profundamente, mas a lista seria exaustiva demais.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
P.M: Eu não tenho
preferência. São distintos e todos fascinantes. Gosto de me relacionar com o
público tanto como de me projetar numa objetiva. Adoro improvisar e reagir
rápido e amo trabalhar o detalhe e o rigor de um grande texto. Gosto de comédia
e de tragédia igualmente. Sou um verdadeiro camaleão como já me chamaram
muitas vezes.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso como ator?
P.M: É impossível escolher.
São tantos já os trabalhos que me marcaram e deram prazer. Quase todos, aliás.
Desde os textos clássicos até aos bonecos de comédia, passando pelos naturalistas
das novelas ou pelos excêntricos e absurdos de teatros experimentais. Quanto
mais passa o tempo mais me é difícil escolher…
M.L: Entre 2001 e 2002, participou na telenovela “A
Senhora das Águas” que foi exibida na RTP, na qual interpretou os irmãos Simão
e Jaime. Que recordações guarda desse trabalho?
P.M: Guardo as melhores
recordações. Os dois gémeos eram opostos em quase todas as características e o
desafio de lhes dar corpo foi imenso e de enorme interesse como ator. Quer no
Simão, pela sua tristeza depressiva, viciado no jogo e não amado, quer no
Jaime, um dos seres mais maléficos que tive oportunidade de fazer em televisão,
torto de espírito, tanto quanto de corpo… Uma maravilha para qualquer ator que
se preze.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
P.M: Maravilhosos, cheios
de vigor e de capacidade criativa. Tanto na ficção televisiva e no Cinema,
quanto no Teatro e nas artes performativas. Estamos plenos de talentos e de
jovens criativos. O que não acompanha e frusta muitas vezes é a falta de verbas
mínimas que possam fazer frutificar e desenvolver aquilo que se vai fazendo de
muito bom.
M.L: Em 2015, celebra 37 anos de carreira, desde que
se estreou como ator com a peça “Woyzeck”, no Teatro da Cornucópia em 1978. Que
balanço faz destes 37 anos?
P.M: Parecem-me várias
(muitas…) vidas. Quando olho para tudo o que já fiz, parece-me ser impossível
caber numa só vida… O balanço que faço é de enorme gratidão pelas oportunidades
que fui tendo e pela forma como fui conseguindo vencer a maioria dos desafios a
que fui confrontado. Toquei sempre muitos “instrumentos” e quero acreditar que
em quase todos fui dando de mim o que pude com imensa alegria. O sucesso não me
caberá nunca a mim medi-lo.
M.L: Além da representação, também é encenador. Em
qual destas funções em que se sente melhor?
P.M: Sou fundamentalmente
um ator. Na raiz, na origem, na motivação e no modo de olhar e criar. Por isso
me fascina também encenar e dirigir outros atores, outros iguais (e
diferentes…) de mim. Porque a massa do nosso trabalho é a vida, e o modo como a
olhamos e a transformamos em Teatro é um trabalho de conjunto e de investimento
sempre emocional. Dirigir, para mim, é um complemento de representar. Tal como
representar é moldar-me a ser dirigido. No centro de tudo isto, o prazer, claro
está.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
P.M: Só deve vir para esta
luta e para estas “aventuras dúplices da alma” quem sentir, sem sombra de
dúvida, uma incontornável paixão interior por esse caminho. De outra forma,
mais tarde ou mais cedo, a frustração irá instalar-se e a força anímica que
deverá estar no centro da nossa criação, irá esgotar-se e morrer. Diziam os
antigos: “O Teatro é como o mar, deita fora o que não presta”.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.M: Muitos, sempre, bons
e variados. Uma parte não verá a luz do dia, como sempre, mas os que se
concretizam valem bem a luta. Vou fazer comédias pelo País fora, encenar uma ópera
no Coliseu dos Recreios, concluir o meu doutoramento na Faculdade de Letras de
Lisboa, colaborar com a Santa Casa da Misericórdia em ações de Educação pela Arte,
etc., e até… comprar um teatro e dirigir um canal de Televisão. Que loucura…
Tantos projetos… Vamos ver o que sairá de tudo isto…
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
P.M:
Todas as que tenho em projeto (as comédias, o doutoramento, o Espaço Mundial da
Lusofonia, as óperas, etc.). Para além disso, tenho em mim todos os sonhos do Mundo.ML
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