M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.U: Logo em criança e a
primeira coisa que eu adorava era ver os amigos de família, as pessoas que iam
lá à casa, eu adorava títulos, fazia muitas imitações… Aliás, um dos “pratos”
favoritos da família era fazer imitações dos amigos, da minha mãe, do meu pai,
e as pessoas adoravam. Foi aí que eu comecei a interessar.
M.L: Quais são as suas referências, enquanto ator?
M.U: Basicamente, tudo vem
da literatura. Li muito em criança e foi aí que eu comecei a ver nascer
personagens, mas grandes referências como ator são, por exemplo, o realizador
John Cassavetes e os atores que trabalharam com ele (Gena Rowlands, Ben
Gazzara, Seymour Cassel). Especialmente, algum cinema americano fez parte da
minha formação.
M.L: De tudo o que tem feito até agora como ator, qual
foi o trabalho em particular que foi muito pessoal de se fazer?
M.U: Todo o trabalho que
fiz com o José Álvaro Morais, já falecido, um realizador de cinema que fez não muitos
filmes (“O Bobo” (1987), “Zéfiro” (1993), “Peixe-Lua” (2000), “Quaresma”
(2003). Foi talvez o realizador com quem tive mais familiaridade e onde vivi
mais e como ator.
José Álvaro Morais (2 de Setembro de 1943-30 de Janeiro de 2004) |
M.L: Durante estas últimas décadas, tem trabalhado
principalmente em teatro e cinema, e alguma televisão também. No caso da
televisão, gostava de, um dia, experimentar o género telenovela, caso haja essa
possibilidade?
M.U: Não, tanto que eu
recuso continuamente. É um género que eu não quero experimentar, já sei o
resultado, basta ver, acho que não tem interesse nenhum para um ator. Houve
agora um surto de séries na televisão e fiz pequenas participações em algumas
(“Terapia” (RTP), “Os Boys” (RTP). Isso já me interessa mais, já são coisas que
acho que um ator pode fazer, mas sinceramente sou sempre puxado mais ao teatro
e ao cinema. É o meu território.
M.L: No caso do cinema, tem participado numa mão-cheia
de longas-metragens que têm tido mais projeção internacional (“Mistérios de
Lisboa” (2010), “Sangue do Meu Sangue” (2011), “Linhas de Wellington” (2012),
etc.). A seu ver, estas projeções internacionais podem impulsionar mais o
cinema feito aqui em Portugal?
M.U: Sim, absolutamente. Sempre
que se internacionaliza um país, ele é depois conhecido e falado, e de facto as
pessoas não têm noção, mas o nosso país tem muito bons atores, muito bom cinema
como já não há em muitos sítios. Nós aqui temos de facto uma tradição de bom
trabalho em cinema e em teatro. Somos de facto bons nisso, é verdade.
Marcello Urgeghe com o elenco e o produtor (Paulo Branco) de "Linhas de Wellington" no 69º Festival de Veneza em 2012 |
M.L: Gostava de, um dia, ponderar a hipótese de
estrear-se na realização ou na encenação?
M.U: Sim, gostava, é um
facto. Apesar disso, o mais que posso, porque eu gosto muito é de representar,
mas acho que chegou a altura de abrir esse capítulo e estou agora a começar a
trabalhar nisso. Tenho dois projetos que quero levar à frente, um deles é o
“Ricardo III” de William Shakespeare e o outro é uma coisa escrita por mim, são
coisas pessoais.
M.L: Atualmente participa na trilogia teatral “Os
Últimos Dias da Humanidade” que vai passar pelo Teatro Nacional D. Maria II em
Janeiro de 2017 e que para mim é a produção teatral mais antecipada de 2016. Já
alguma vez imaginou que uma produção desta dimensão pudesse ser levada à cena
não só em Portugal como no Mundo em geral?
M.U: Não imaginava de
facto. Mas a verdade é que este é um texto incrível e mais atual não pode ser.
É um texto que fala da Primeira Guerra Mundial, mas nós vemos tudo igual ao que
se passa hoje. Hoje estamos nos primórdios de uma Terceira Guerra Mundial, está
a começar hoje nos mesmos sítios. Não imaginava, mas de facto este pode escalar
a um outro nível sim.
Marcello Urgeghe em "Os Últimos Dias da Humanidade" |
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
M.U: O conselho que dou é
antes de fazer pensar e depois quando for para fazer não pensar.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido
até agora como ator?
M.U: É o meu percurso, é a
minha vida.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
M.U: Não tenho uma coisa que gostasse de fazer. Tenho
feito tudo o que gosto. Sou um privilegiado nesse aspeto.ML
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