Olá. A próxima entrevista é com o ator Pedro Lamares. Natural do Porto, interessou-se verdadeiramente pela representação aos 19 anos (antes interessava-se mais pela poesia e pela música) tendo desenvolvido um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Dei-te Quase Tudo" (TVI), "Paixões Proibidas" (RTP/TV Bandeirantes), "Deixa-me Amar" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Olhos nos Olhos" (TVI), "Sentimentos" (TVI) e "República" (RTP) e além da representação também foi professor tendo lecionado Expressão Dramática no Colégio do Sardão em Oliveira do Douro entre 2004 e 2006 e brevemente vai estar em cena no Teatro do Bolhão no Porto com o espetáculo de poesia "O Fraseador" da qual também é o autor e que vai estar em exibição entre 5 e 16 de Dezembro. Esta
entrevista foi feita no dia 27 de Janeiro
de 2011 no Centro Multimeios de Espinho na altura em que o entrevistado
passou por lá a propósito da longa-metragem "Filme do Desassossego" de
João Botelho que é baseada no "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa
da qual participou e que estava em digressão na altura.
M.L: Como é que surgiu o convite para integrar o
elenco do “Filme do Desassossego”?
P.L: Foi um telefonema,
chegou à minha agente essa coisa, alguém falou de mim e o João Botelho viu uns
vídeos de mim a eu dizer Fernando Pessoa na Internet, no Centro Cultural de
Belém e entraram em contato comigo, eu fui conhece-lo e ele fui ver o que é que
se sentia e tal… Foi assim uma coisa muito rápida.
M.L: Que balanço faz deste trabalho?
P.L: Eu faço dois
diferentes: faço do meu trabalho pessoal no filme que é um balanço de
crescimento, de aprendizagem num papel muito pequenino, mas que para mim foi
muito importante para fazer parte do filme do João que eu admiro tanto. Depois
faço um outro balanço do filme propriamente dito independentemente de mim, que
eu acho uma obra extraordinária honestamente. Eu sei que não fica nada bem
dizer estas coisas de um trabalho, onde nós participamos, mas eu enquanto
espectador é um filme que me impressiona muito.
M.L: Como foi trabalhar com João Botelho?
P.L: Foi ótimo. O João trabalha
religiosamente, ele tem um respeito pelo cinema… eu gosto muito da energia
dele, gosto muito da visão que ele tem de cinema.
M.L: Como classifica este projeto?
P.L: Eu acho que é um hino
à palavra portuguesa, por ser um filme de fato sobre uma das obras daquele que
para mim é o grande poeta português de sempre. Acho que é uma obra de
referência do cinema contemporâneo português… É profundamente (eu acho) cinema
português… Português no sentido de ter uma identidade portuguesa, de fato muito
vincada quer ao nível da palavra, quer ao nível da Lisboa que é mostrada nos
hábitos, nos ritmos… Eu acho que é um filme profundamente português.
M.L: Recentemente protagonizou a mini-série
“República” (RTP), onde interpretou Carlos que se apaixona por uma mulher da
alta sociedade interpretada por Helena Costa e que se torna numa das pessoas
que implanta a República em Portugal. Como correu este trabalho?
P.L: Acho que correu bem.
Foi um trabalho muito duro de se fazer, foi muito intenso, foi feito em muito pouco
tempo (em muito menos tempo do que era preciso para se fazer aquilo), com
cuidado necessário. Portanto, foi um trabalho duro, mas com uma equipa ótima, é
uma equipa de cinema (não era uma equipa de televisão, mas de cinema), muito
rodada… O realizador que é o Jorge Paixão da Costa que é um realizador de
cinema e de televisão, uma pessoa com muita escola e que sabe muito bem do que
está a fazer… Foi porreiro, eu gostei da personagem (o Carlos), foi divertido,
foi engraçado, foi forte, foi um trabalho pesado e eu acho que correu bem.
Achei o resultado bem.
M.L: “República” foi uma das mini-séries criadas pela
RTP a propósito de celebrar o centenário da República. Como vê esta iniciativa
por parte do canal?
P.L: Vejo como uma coisa
muito importante. Porque tem a ver com o orgulho nacional: nós chegamos aos EUA
e eles fazem filmes por tudo e por nada sobre a sua História, nós temos
momentos tão marcantes na nossa História, nós temos o 25 de Abril, uma
revolução que muda o estado de um país inteiro matando duas pessoas por engano,
temos a revolução da Implantação da República que é uma revolução ganha por
equívoco, da retirada dos alemães e eu acho que nós temos que começar a contar
as nossas histórias e portanto acho que uma função de um canal público (Serviço
Público de Televisão) é investir para contar a nossa História ao nosso povo.
Portanto, acho uma iniciativa notável honestamente, acho mesmo importante
independentemente de eu estar ou não estar no projeto.
M.L: Quando é que se interessou pela representação?
P.L: Só comecei a
interessar-me verdadeiramente pela representação aos 19 anos. Até aí
interessava-me pela poesia e pela música, não exatamente no teatro.
M.L: Fez
teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais prazer em
fazer?
P.L: Espetáculos. Eu gosto
muito de fazer espetáculos, eu gosto muito de palco. Gosto muito de cinema
também. É difícil de escolher entre esses dois. A televisão não é exatamente e
entre o cinema e o teatro é difícil de escolher e eu tenho um fascínio enorme
pelo palco. Na televisão aprendi imenso, mas não é de longe o que me dá mais
prazer.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o
marcou, durante o seu percurso como ator?
P.L: Há dois ou três que
me marcaram. Houve uma ópera que eu fiz no Coliseu do Porto e que depois fui
fazer para Itália. Aquilo marcou-me imenso, na altura em que eu fazia uma
personagem sem texto, uma personagem muda que era o Mercador, que eu adorei
fazer esse trabalho. Em cinema, foi este filme, o “Filme do Desassossego” e toda
esta experiência e uma digressão que eu estou a ter com o filme… Porque eu
trabalho em várias áreas não é difícil destacar uma coisa só… Em poesia, há um
projeto que para mim é muito especial que é o projeto Coincidência que é com o
Álvaro Teixeira Lopes, que é um projeto de piano, poesia e imagem, que eu adoro
e me marca imenso. Em teatro, talvez a minha primeira peça profissional que foi
o “Tio Vânia” dirigida pelo Rogério de Carvalho.
M.L: Desde “Dei-te Quase Tudo” (TVI) que é uma
presença regular nas telenovelas. Este é um género televisivo que gosta muito
de fazer?
P.L: Não muito. Eu fiz 5
telenovelas, já não faço há um ano agora (a
última telenovela em que o entrevistado participou até agora foi “Sentimentos”
que foi exibida na TVI entre 2009 e 2010). Não é um género televisivo que
eu procuro muito, não é mesmo. Agora, foi um género que foi muito importante
para mim para me dar trabalho, durante um tempo e que foi muito importante para
me ensinar a lidar com câmara, para me ensinar a resposta rápida que a
televisão exige, para me ensinar um outro código de trabalho que foi muito
importante para mim. Agora, não é uma paixão que eu tenha propriamente, embora
haja coisas em televisão que eu gosto como as séries que são feitas com mais
tempo. As telenovelas são feitas com grande rapidez. É muito industrial, é
muito difícil.
M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma
telenovela?
P.L: Mal. São muitas horas
de trabalho por dia e depois chegas ao fim do dia e vais para casa e tens 20
cenas para decorar para o dia seguinte, pouquíssimas horas para dormir. É muito
duro, é um trabalho muito duro mesmo. As pessoas só passarem por lá é que
sabem.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “Paixões Proibidas” (RTP/TV Bandeirantes), onde interpretou a
personagem Mateus. Que recordações guarda desse trabalho?
P.L: Fortíssimas e muito
boas. Foi um trabalho violentíssimo, muito duro de se fazer, foi um dos
trabalhos mais duros que eu fiz na vida (acho eu). Foi muito duro estarmos
retirados, durante tanto tempo, trabalharmos com condições muito complicadas, muito
precárias, mas para mim a experiência de vida no Brasil valia a pena todo este
fim. Impressionante, mudou-me completamente. É um país que mexe muito comigo.
Foi muito bom, a experiência de poder estar a viver no Rio de Janeiro, durante
aquele tempo e de criar vínculos tão fortes com aquelas pessoas…
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
P.L: Vejo o teatro não
estando em grande proliferação em termos de quantidade. Acho que se está a
fazer muito bom teatro em Portugal. Eu aconselho muito uma coisa: vejam o
Teatro Meridional. O Meridional é uma grande referência para mim, do estado do
Teatro em Portugal ou seja de se fazer sem grandes meios, sem grandes
orçamentos, mas de se fazer muito bem, com muito cuidado, com muito teatro no
sentido mais puro da palavra, de construção de trabalho de equipa, de soluções,
de encontrar soluções que não sejam tecnológicas, que sejam soluções humanas,
soluções simples e que funcionam muitíssimo bem.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
P.L: Sim, de alguma forma.
Por exemplo, eu não tenho uma ambição de Hollywood, eu não tenho mesmo. Mas por
exemplo eu adorei trabalhar no Brasil, adoraria voltar a trabalhar no Brasil.
Gostei muito de estar a fazer a ópera em Itália, já estive a fazer uma coisa de
poesia em Bruxelas que gostei imenso… Eu gosto muito de viajar, eu adoro viajar
e eu adoro trabalhar, portanto eu consigo juntar as duas coisas ao mesmo tempo…
M.L: Qual foi a figura da representação que o marcou,
durante o seu percurso como ator?
P.L: Várias. Houve muitos
americanos (claro), europeus, etc… Houve o Robert DeNiro, o Al Pacino, o John
Malkovich, o Anthony Hopkins… foram figuras que me marcaram muito… há muitos
portugueses também… há uma geração de mulheres que eu adoro que é a Natália
Luíza, a Maria João Luís, a Luísa Cruz… eu digo que é a geração das “Luísas” e
das “Luís” (que é a Maria João Luís)… que são atrizes extraordinárias… eu tenho
muitas referências… tenho atores da minha geração como o Filipe Duarte, o Nuno
Lopes que são ótimos.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
P.L: Viajar no Oriente e
viajar em África.
M.L: Se não fosse o Pedro Lamares, qual era o ator que
gostava de ter sido?
P.L: Não faço a mínima ideia. O fato de eu os achar
muito bons atores não quer dizer que eu quero ser eles, porque muitas vezes eu
os acho extraordinários como atores, mas não ambiciono a vida que eles levam.
Eu gosto muito da minha vida aqui, eu gosto muito da minha família, eu acho que
não queria ter sido outra pessoa, eu acho que gosto desta.ML
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