M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
S.B.L: Não posso dizer aquele chavão de "sempre quis ser atriz", porque não é verdade. Queria ser cabeleireira, funcionária de uma caixa de supermercado ou secretária num escritório para poder usar óculos. Não posso também dizer um outro chavão que é "ao tornar-me atriz sou estas profissões todas", porque também não é verdade: ou se é atriz ou cabeleireira! Na verdade, a minha história é tanto banal como desinteressante: sentia-me melhor a falar em público do que fechada no quarto e só tinha boas notas na escola, quando podia transformar as apresentações de trabalhos em peças de teatro em vez de dossiers comuns. Quando surgiu a altura de decidir escolhi estudar Teatro.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz?
S.B.L: Parece-me que as
influências para os atores dependem (sobretudo) da personagem que estão a
interpretar. Mas tenho inúmeras influências que regem a minha vida e me ditam
princípios básicos que passam por livros, músicas, pessoas, momentos específicos,
fotografias, quadros, atores, interpretações, filmes, textos, conversas,
locais, frases, culturas… Mas este é um assunto para muitas horas… No entanto,
para mim, as principais influências de uma vida passam pela Arte e dentro de
todas as formas de arte considero a Música a mais perfeita delas todas.
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
S.B.L: São formatos
bastante distintos e que reclamam técnicas diferentes. O que eu gosto é de
Interpretar e isso é possível em qualquer formato. Felizmente tiro prazer de
qualquer trabalho que faça.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a
marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.B.L: Eu sou tão
pequenina para responder a esta pergunta. O meu percurso é minúsculo e
contam-se pelos dedos das mãos os trabalhos que fiz... Mas se tivesse que
escolher o que mais marcou o meu crescimento, enquanto atriz foi a peça
"Romeu e Julieta" encenada por Eduardo Alonso e co-produzida pelo
Teatro do Bolhão e Centro Dramático de Viana. Esta peça não exigiu uma parte de
mim, exigiu-me por completo. O processo para chegar a essa entrega é algo que
guardo com muito carinho.
M.L: Já fez telenovelas. Este é um género televisivo que
gosta muito de fazer?
S.B.L: Não vejo novelas e
admiro imenso quem as faz sejam atores, técnicos, caracterizadores ou
produtores! Pessoalmente, é um trabalho que adoro fazer e que me estimula muito,
enquanto atriz. Gostava que todos os atores pudessem (um dia) passar por esta
experiência de fazer ficção, porque acredito que é fundamental exercitar a
rápida capacidade de resposta num formato em que o "tempo" é
precioso.
M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma
telenovela?
S.B.L: Não tenho legitimidade
para dizer que lido bem ou mal, quando trabalho com uma equipa técnica que
trabalha doze horas por dia, de segunda a sexta, monta e desmonta todo o
material e no fim do dia ganha uma miséria. Com isto, posso dizer que lido
muito mal. Além disso, se trabalhar numa novela como ator fosse assim tão
violento não víamos tantos a sair à noite.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “Sentimentos” (TVI), onde interpretou a personagem Rute Dias.
Que recordações leva desse trabalho?
S.B.L: Ruy de Carvalho,
Ruy de Carvalho e Ruy de Carvalho. É um prazer ter sido paga para poder estar
perto deste senhor, ouvi-lo, falar e contracenar com ele. Adorei o ambiente da
novela, fiz amigos fora de série e a Rute tem um lugar especial na minha
memória.
M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu
percurso como atriz?
S.B.L: Foi precisamente,
depois de ter acabado as gravações de “Sentimentos”, onde interpretei uma
rapariga de 17 anos que engravidava e decidia que queria levar a gravidez até
ao fim e receber o filho de braços abertos. Eu estava no Porto, na Estação de
Campanhã, a entrar para o comboio, quando vem uma adolescente ter comigo, muito
emocionada. Agarrou-me nas mãos e com lágrimas nos olhos, agradeceu-me a
inspiração que a minha personagem tinha sido para ela e para a sua família.
Disse que quando descobriu que estava grávida tinha coincidido com o momento em
que passava no ar o drama da Rute. O fato da personagem ter lutado contra a sua
família para ter o filho e ter conseguido convencê-los de que a vida não
terminava ali, que havia outras soluções para além de abortar fez com que a
família da rapariga aceitasse (também) a sua gravidez apesar dos seus 16 anos.
Muitas lágrimas depois, abraçámo-nos e eu senti aquela barriga cheia de
felicidade que se manifestava imponente entre nós. Foi indescritível.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
S.B.L: São dois assuntos
completamente diferentes que estão também em situações completamente
diferentes. Acho que a minha opinião é ingénua e pouco fundamentada e por isso
não tenho o direito de a partilhar.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
S.B.L: Gosto de estar cá e
do que tenho cá. No dia em que Portugal não chegue para mim logo vejo o que há
lá fora e direi se gosto.
M.L: Vive em Lisboa, mas nasceu no Porto. Já alguma
vez se arrependeu de ter decidido ir viver para Lisboa?
S.B.L: Na verdade, eu vivo
mais no comboio Intercidades da CP do que propriamente em alguma destas
cidades. Eu sou do Porto, pertenço ao Porto e voto no Porto. Trabalho em
Lisboa, vivo em Lisboa e sou feliz em Lisboa. Estou em ambas as cidades, todas
as cidades, impreterivelmente. Nunca me arrependi de ter mudado a minha vida
aos 16 anos. Antes pelo contrário, sou uma privilegiada por (aos Domingos)
acordar com vista para a Ribeira e (300 quilómetros depois) ver a ponte 25 de
Abril ao pôr-do-sol.
M.L: Recentemente participou na micropeça “O Coro dos
Amantes a Caminho do Hospital” de Tiago Rodrigues que contou com encenação de
Joaquim Nicolau e que terminou no passado dia 31 de Maio. Como correu este
trabalho?
S.B.L: Foi maravilhoso!
Este foi um projeto meu. Escolhi o texto, o outro ator e o encenador. Sou
apaixonada pelo trabalho do Tiago Rodrigues e entrei em pânico, quando percebi
que ia mesmo interpretar um texto dele. Na verdade, o meu preferido! Não tenho
palavras para agradecer ao ator Edi Gaspar e ao encenador Joaquim Nicolau. Foi
um projeto especial, muito cansativo e que exigia uma dedicação incrível. Adorei
poder fazê-lo.
M.L: A micropeça esteve em cena no recém-inaugurado
Teatro Rápido que é um projeto da Encena-Agência de Atores da qual é agenciada
e cujo o objetivo é apresentar espetáculos de microteatro. Como vê esta
iniciativa por parte da agência?
S.B.L: Extremamente
inteligente! O projeto em si é uma ideia brilhante e nos dias de hoje não podia
ser mais pertinente. Em primeiro lugar, porque pretende abranger um público que
não é o público que costuma ir ao Teatro. Em segundo, porque dá oportunidade a
qualquer pessoa de poder desenvolver uma ideia, um texto, um conceito sem
depender de concursos e subsídios. Por último, por ser uma agência de atores
que não só procura trabalho para os seus agenciados, como ela própria cria
esses trabalhos.
M.L: Anteriormente estreou-se na encenação com o
espetáculo “Era uma vez… uma Princesa” da qual também participou. Que balanço faz
da sua primeira experiência na encenação?
S.B.L: Eu sou uma formiga
no mundo do Teatro. Nunca se pode dizer que aquilo tenha sido uma encenação!
Foi um grupo de jovens que queriam fazer Teatro, tinham ideias e vontade, não
tinham dinheiro, mas não fez mal! Juntamo-nos e criámos. Um escreveu, outro
compôs, outros improvisavam e a minha função foi harmonizar tudo em palco.
M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava
de trabalhar no futuro?
S.B.L: Eu adoro atores.
Quero dizer, eu adoro pessoas. Gosto de perceber como temos que nos moldar uns
aos outros de forma a que podermos conviver e trabalhar. Gosto de conhecer
pessoas novas, diferentes, gosto de aprender e gosto que me façam duvidar dos
princípios que considero elementares, que me tirem da zona de conforto. Dessa
forma, se enumerasse alguns nomes estaria a excluir um enorme conjunto de
pessoas que não conheço, que nem sei que existem, mas que estão algures no
mundo e têm alguma coisa para me ensinar.
M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo
Emmy com a telenovela da SIC “Laços de Sangue” da qual participou. Como vê este
reconhecimento internacional?
S.B.L: A novela era muito
boa e mereceu esse reconhecimento. A equipa e o elenco trabalharam muitíssimo
bem e é sempre um orgulho, quando o nosso pequeno Portugal rasga as fronteiras
e se mostra ao mundo.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu
percurso como atriz?
S.B.L: Foi a atriz Luísa
Cruz. Já acompanhava o seu percurso em Teatro há muitos anos e desde o dia em
que a conheci que tenho a certeza que quando for grande quero ser metade do que
ela é. Admiro-a como pessoa, como atriz e como profissional…
M.L: Que balanço faz da sua carreira?
S.B.L: Eu quase não tenho
carreira, quanto mais fazer um balanço dela! Ainda preciso de muito tempo para
aprender e conquistar. E depois, preciso ainda que passe mais tempo sobre essas
aprendizagens e conquistas para eu poder distanciar-me ao ponto de conseguir refletir
sobre elas.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.B.L: Neste momento,
estou a gravar a novela “Lua de Papel” (título provisório de "Doida por Ti") que vai estrear na TVI. Paralelamente
comecei as rodagens da longa-metragem independente “Pecado Fatal” e tenho um
novo projeto a estrear no Teatro Rápido em Outubro.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
S.B.L: Gostava de
experimentar viver sozinha noutro país.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
S.B.L: A única coisa que
podia mudar neste momento da minha vida é o valor que pago de Segurança
Social!!! Tudo o resto, já sou muito felizarda por ter.ML
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