M.L: Como é que surgiu o interesse pela escrita?
S.R: Quando tinha 6 anos
resolvi escrever uma história a partir de um sonho que tinha tido. Foi com a
ajuda da minha mãe que fez comigo um pequeno livro para oferecer à minha
professora. Foi uma experiência que me entusiasmou muito e a partir daí nunca
mais parei de escrever: diários, contos, peças de teatro, poesia... Aos 20 anos
resolvi abraçar um desafio maior e escrever um romance. Aproveitei as férias de
Verão e em vez de um romance escrevi dois. Soube entretanto de uma editora (a
Contemporânea Editores) que andava à procura de novos autores. Enviei para lá
os meus manuscritos e eles resolveram publica-los (“A Sombra dos Anjos” e
“Frio”). Foi uma grande experiência, mas que infelizmente não terminou muito
bem, porque a editora fechou algum tempo depois. Desapontada, acabei por
enveredar por outra área que descobri entretanto: o guionismo. Tinha estudado
seis meses em Barcelona (cidade com uma grande tradição de cinema) e acabei por
ter várias cadeiras nessa área. Quando regressei a Portugal surgiu uma oportunidade
de escrever a primeira novela da SIC chamada “Ganância”. Trabalhei com a autora
brasileira Lúcia Abreu e depois com o Francisco Nicholson que considero o meu
grande padrinho de profissão. Nos dez anos seguintes estive envolvida em cerca
de 11 novelas e 7 ou 8 séries... foram anos de um trabalho muito intensivo e
absorvente, mas que foram também uma grande escola para tudo o mais que tenho
vindo a fazer. Neste período de tempo
surgiu a possibilidade de fazer um livro a partir de uma novela (“O Olhar da
Serpente” (SIC) que escrevi com a Felícia Cabrita. Foi o meu regresso aos
livros na altura com o editor Alexandre Vasconcelos e Sá (que recentemente fundou uma nova editora de nome Divina Comédia)
que começou a desafiar-me para trabalhos de ghostwriting
que consistem em escrever livros
para outros autores que têm histórias para contar ou conhecimentos para
transmitir, mas não são escritores. Estes trabalhos foram e são (porque ainda
os faço) experiências muito interessantes, onde eu entro na pele desses autores
e tento escrever de uma forma com a qual eles se identifiquem, aprendendo com
eles os mais diversos conhecimentos e perspetivas de vida. Surgiu depois a
oportunidade de escrever livros infanto-juvenis a partir das séries “Morangos
com Açúcar” (TVI) e mais tarde da “Floribella” (SIC) nas quais trabalhei.
Sentia-me cada vez mais à-vontade no mundo dos livros e sabia que era por aí
que deveria seguir. Foi então que em 2005 criei uma coleção infantil com a
minha grande amiga e ilustradora Cristiana Resina. Batemos a várias portas e
chegamos à fala com o editor infanto-juvenil da ASA (que hoje pertence ao grupo
Leya) Vítor Silva Mota. Assim nasceu a coleção “Clássicos a Brincar” que
começamos a levar a escolas e bibliotecas de todo o país. Esta coleção tem 5
títulos editados e nasceram entretanto outras coleções como “Maria &
Sebastião” (4 livros editados), “Leo, o Menino do Circo” (7 livros editados e 4
de atividades) e mais recentemente para a editora Objectiva, a coleção “Portal
do Tempo” escrita em parceria com a Vera Sacramento. Esta última coleção
(juvenil) tem vindo a ser adaptada para televisão pela TVI e a série estreará
muito em breve ao fim-de-semana. Entretanto e porque o ritmo da televisão se
coadunava cada vez menos com a minha vida familiar (hoje tenho quatro filhos)
pensei em criar um projeto meu, ligado aos livros. E assim nasceu O Livro da
Minha Vida que dava a possibilidade a qualquer pessoa, empresa, entidade de ter
a sua história transformada em livro numa edição limitada. Desafiei a Ana Correia
Tavares (que era uma arquiteta) a entrar comigo neste projeto e a fazer o design dos livros. Inicialmente foi
complicado, porque era uma ideia inovadora, tivemos que inventar fórmulas e
formas de trabalhar, mas felizmente começamos a perceber que havia uma série de
pessoas interessadas em ter o seu livro com a sua história, para partilhar com
amigos, descendentes, colegas, clientes... E a verdade é que (em quatro anos)
já fizemos perto de 200 livros. Para além destes, relancei em 2011 um dos meus primeiros
romances (“Frio” pela editora LIMIVI) e também (mais recentemente) um romance
histórico (“D. Estefânia-Um Trágico Amor” pela Esfera dos Livros).
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou, durante o seu percurso como escritora?
S.R: É
difícil responder, porque cada livro tem marcado um momento diferente, mas
sempre especial da minha vida. Os livros são filhos. É impossível dizermos que
gostamos mais de uns do que outros, porque são todos diferentes e temos uma
ligação própria com cada um deles.
M.L: Além da literatura também teve experiências como
guionista, dramaturga e jornalista. Qual destas funções em que se sente melhor?
S.R: No
jornalismo e na dramaturgia tive experiências pequenas. Gostaria muito de
voltar a investir nesta última área que me agrada bastante. Mas não há dúvida
de que (devido à minha experiência profissional) as áreas em que me sinto mais
confortável são as do guionismo e literatura.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes, enquanto
guionista foi a telenovela “O Olhar da Serpente” (SIC) da autoria de Francisco
Nicholson e da jornalista Felícia Cabrita, com quem escreveu o livro com o mesmo
título. Que recordações guarda desse trabalho?
S.R: Foi muito interessante. A
“Ganância” (que antecedeu “O Olhar da Serpente”) passou por bastantes percalços
inclusive a mudança de autor. Também foi a minha primeira novela e tinha muito
a aprender.
Em “O Olhar da Serpente” já estava com outra segurança e o projeto foi desenvolvido de raiz com o Francisco Nicholson (autor), a Vera Sacramento (hoje Diretora de Conteúdos da Coral Europa) e a Lúcia Feitosa (que continua ligada à Plural) que escreveram a novela comigo. O Francisco Nicholson foi um grande mentor (para mim) pelos seus rasgos criativos e também pela sua forma de encarar a vida que a mim me diz muito.
Em “O Olhar da Serpente” já estava com outra segurança e o projeto foi desenvolvido de raiz com o Francisco Nicholson (autor), a Vera Sacramento (hoje Diretora de Conteúdos da Coral Europa) e a Lúcia Feitosa (que continua ligada à Plural) que escreveram a novela comigo. O Francisco Nicholson foi um grande mentor (para mim) pelos seus rasgos criativos e também pela sua forma de encarar a vida que a mim me diz muito.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o seu
percurso como escritora?
S.R: Talvez
o lançamento do meu primeiro livro na Fnac do Chiado. Tinha 22 anos, era muito
inexperiente, mas foi um momento muito marcante em que senti que ia de fato
abraçar o meu sonho de criança e ser escritora.
M.L: Como vê atualmente a Cultura em Portugal?
S.R: É
inegável que tem havido um desinvestimento em virtude da crise que está
instalada, mas uma crise não se ultrapassa sem um investimento no ser humano e
esse investimento tem de passar pela cultura. O Estado tem essa
responsabilidade (naturalmente), mas todos nós (individualmente) também a
temos, quer no fomento da nossa própria cultura, como no fomento da cultura nas
gerações mais novas. É importante que as crianças de hoje em dia entendam a
importância da cultura para que um dia a valorizem mais do que as gerações
atuais. Penso que está a ser feito um trabalho muito interessante a esse nível,
nas escolas, através de professores empenhados que têm sabido colocar os
recursos que têm ao dispor dos alunos. Nunca como antes as escolas tiveram
bibliotecas tão equipadas, visitas de escritores, acesso a informação, aulas de
música, dança, expressão dramática, visitas a teatros e outros espetáculos...
Os alunos beneficiarão com isso e, em última instância, todos nós, porque esta
nova geração irá dar mais valor à cultura, é a minha convicção. E,
consequentemente, será também uma geração mais criativa, o que se refletirá no
mercado de trabalho a vários níveis.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
S.R: Portugal
é um mercado muito pequeno, portanto com certeza que gostaria que as minhas
histórias não tivessem fronteiras… Um dos meus sonhos é que um livro meu fosse
transformado num filme com projeção internacional. É uma grande ousadia, mas
sonhar é importante, para renovarmos os nossos objetivos todos os dias e
trabalharmos para eles.
M.L: Também é Diretora de Conteúdos da editora O Livro
da Minha Vida que fundou juntamente com a arquiteta Ana Correia Tavares em
2007. Que balanço faz do percurso que a editora fez até agora?
S.R: É
muito gratificante, por um lado, porque é sempre uma emoção para quem requisita
os nossos serviços ver a sua história transformada em livro e partilhada com
aqueles que mais preza. Por outro lado, parece-me uma tarefa muito importante,
porque estamos a deixar para o futuro um conjunto de histórias pessoais que
refletem o que foi e é Portugal neste século. Temos recolhido histórias de
pessoas com 80 e 90 anos que falam de um Portugal que já não existe e que as
novas gerações nem imaginam que existiu. É importante deixar estas histórias
registadas e o livro continua a ser a melhor forma de as perenizar.
M.L: Qual foi a personalidade da Cultura que a marcou,
durante o seu percurso como escritora?
S.R: Em
primeiro lugar foi uma pessoa chamada Eduardo Prado Coelho que foi o meu
professor na faculdade. Foi a primeira pessoa que leu “A Sombra dos Anjos” e
que me incentivou a envia-lo para as editoras. Nessa altura, o livro chamava-se
“Anjo Negro”, mas como já existia um livro com esse mesmo nome (de Antonio
Tabucchi), foi Eduardo Prado Coelho quem sugeriu o nome que depois ficou.
Também me marcou muito a Luísa Mellid-Franco, que fez a primeira crítica aos
meus livros, no Expresso e o Carlos Pinto Coelho que leu por acaso os meus
livros e me convidou para programa “Acontece” (RTP2) como escritora-revelação.
Tenho também que voltar a referir o Francisco Nicholson (pelas razões que já
enunciei) e mais recentemente os meus editores (Alexandre Vasconcelos e Sá, Vítor
Silva Mota e Sofia Monteiro). Estou muito grata a todos eles pelo incentivo e
“empurrão” que me foram dando ao longo destes anos.
M.L: Que balanço faz da sua carreira?
S.R: Acho que ainda é um
bocadinho cedo para olhar para trás. Por enquanto, estou na fase de olhar para
a frente, de querer ter cada vez mais desafios e mais e mais e mais. Sou uma
sonhadora por natureza e uma lutadora por opção. Já cometi muitos erros, como
toda a gente, mas entre caminhos errados acho que tenho vindo a descobrir os meus
e há que seguir em frente sem olhar para trás.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.R: No
decorrer do próximo ano (2012/2013) conto lançar alguns livros, juvenis e
romances que pretendo levar também a escolas e bibliotecas. Irei também
continuar a desenvolver projetos n’O Livro da Minha Vida e conto também abraçar
alguns desafios na área da dramaturgia que estão a ser desenhados neste momento
e que espero que vão avante.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
S.R: Escrever
para cinema é um desafio que ainda gostava de abraçar. Gostava de transformar uma história minha num filme e
dar corpo a mais um conjunto de histórias que imagino no grande ecrã. Também
gostava muito que um livro meu infantil se transforme num musical. Estarei
igualmente a trabalhar para isso, durante este ano.
M.L: Se não fosse a Sara Rodi, qual era a escritora
que gostava de ter sido?
S.R: É uma
pergunta complicada. Sou fã incondicional de José Saramago e, se me
perguntassem com quem gostaria de me assemelhar, ao nível da escrita, seria
naturalmente com ele, por mais ousado que isso possa parecer. Tive a
oportunidade de o conhecer e de falar com ele em duas ocasiões e identifico-me
totalmente com um conjunto de reflexões que ele faz, sobre o homem e sobre a
vida. A forma como o coloca depois em livro também sempre me fascinou. Não
tenho um estilo próximo do dele, nem sei se algum dia me aproximarei, sequer,
em termos de qualidade literária. Mas sem dúvida que ele é uma das minhas
grandes referências.ML
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