M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
P.S: Confesso
que, desde miúda, sempre fui muito espontânea para com a minha criatividade,
era (e ainda sou um bocadinho) a artista da casa sempre pronta a entrar no meio
da sala sem medos e fazer uma peça de teatro, interpretar uma canção, vestir uma
personagem de um filme ou um ícone da História e deixar todos com um sorriso no
rosto. Sou uma alegre caixinha de surpresas para a família,
confesso.
O estudo de
comportamentos, a analise constante de emoções e pôr-me no papel do “outro”
enquanto vivências relacionamentais também foi sempre algo muito presente na
minha forma de estar na vida e que sempre me estimulou. Perante estas minhas tendências, poderia afirmar que
nasci atriz, mas conscientemente comecei a ficar com o “bichinho da
representação” a fazer anúncios para TV os quais requerem algum acting, pois damos vida a uma personagem
numa história, mesmo que só para uma marca ou para um produto. Por isso, posso
dizer que foi oficial, na minha mente, o casamento com esta paixão, com a
publicidade há cerca de 11 anos.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
P.S: Apaixonam-me atores
que consigam construir A
personagem de uma forma subtil, que seja notória a construção através do Método
de Stanislavski, que através de gestos simples, mas fortes, olhares intensos
que, praticamente, não precisem de texto para falar, se perceba a intensão e
emoção da cena. Por isso, vejo inspiração para o meu trabalho em atrizes como
Charlize Theron, Meryl
Streep, Natalie Portman e em atores como Daniel Day-Lewis, Anthony Hopkins e
Johnny Depp.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
P.S: Enquanto atriz, é
gratificante qualquer uma destas áreas, pelo menos para mim que felizmente já
pude experienciar as 3, precisamente por terem formas distintas de construção
de personagem. Em novela, por exemplo, o percurso da personagem está, até ao
final, a ser escrito, por isso é sempre uma surpresa para nós, enquanto atores,
do futuro da mesma, o que nos obriga a uma ginástica maior em termos de memória
e de emoções. Uma forma simples de explicar esta situação é: Hoje gravamos o
nosso casamento e amanhã gravamos o início do namoro. Em termos de cronologia, não
há uma constante de gravação. Já em cinema, temos um guião em mão por inteiro e
sabemos o início e fim da história da nossa personagem com alguma antecedência,
o que nos permite uma margem maior de trabalho de construção de personagem. Por
outro lado, o facto de termos de gravar 5 vezes a mesma cena por causa dos
planos, torna o trabalho de repetição mais difícil que em novela. No teatro, respiramos
o público, temos uma liberdade de expressão corporal maior, sentimos, de
imediato, a reação do nosso trabalho! É muito gratificante. E é o pai desta
arte!!! Por isso, diria que a ser gratificante, num todo, é o teatro. Mas amo
representar e poder explorar ser outras pessoas em mim, por isso dêem-me um
guião, um espaço, uma personagem e público e estarei muito feliz em qualquer um
dos 3 “moldes”.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
enquanto atriz?
P.S: Houve uma personagem
que fiz numa peça de teatro que me apaixonou bastante: “Em Nome do Pai”. Uma
menina que vivia no meio rural e que sonhava com Hollywood, que se refugiava no
seu imaginário para fugir à morte de um pai e de uma família com muitos
problemas financeiros. Foi muito bonito, para mim, senti-la e foi a personagem
mais complexa em comparação a qualquer outro registo que tivesse feito.
M.L: Em 2010, participou na curta-metragem “Voice Mail”
e na respetiva sequela intitulada “Voice Mail 2-A Vingança”, da qual foram
escritas e realizadas por Artur Ribeiro. Que recordações guarda destes dois
trabalhos?
P.S: Foi delicioso! Muito
bom e engraçado. Surgiu de uma brincadeira entre mim e o Artur, de um desafio
para os 2 o qual funcionou muito bem, tanto que se tornou numa sequela. Numa
esplanada a lancharmos, o Artur disse-me: “Se escrevesse algo para amanhã e
chegasse ao pé de ti com uma câmara, alinhavas em fazer uma curta-metragem meio
louca?”. Eu que adoro desafios, (ainda que estivesse um pouco assustada, pois
não sabia que texto ia ter, não teria tempo para decorar e trabalhar a
personagem) disse logo: “SIM!!!”. E resultou lindamente!!!
M.L: Como foi trabalhar com Artur Ribeiro?
P.S: O Artur é um excelente
profissional e um amigo que tem uma sensibilidade e qualidade natas para a
escrita. Uma pessoa muito sensível à vida e aos pequenos pormenores da mesma.
Posso dizer, sem qualquer receio, que se há algo que vai ser escrito pela mão
dele vai ser muito bom! Vemos isso no guião para a curta-metragem “Voice Mail” que surgiu de uma brincadeira e do qual ele conseguiu pôr a força de uma psicótica, junta alguma comédia e drama em texto subentendido. Por isso, foi maravilhoso trabalhar com o Artur e espero voltar a repetir.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, até agora,
enquanto atriz?
P.S: O primeiro guião que
tive em mão para interpretar foi, sem dúvida, o momento que mais me marcou. Precisamente
por ser o começo de tudo, do sonho.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
P.S: Seria óbvio dizer que
sim, mas não. Ainda que seja uma lutadora e aventureira, sempre sonhei com os
pés bem assentes na terra e sei o quanto difícil é conseguirmos mostrar o nosso
trabalho a nível artístico lá fora. Adoro Londres e a forma como lidam com a
arte, sou facciosa por filmes de Hollywood, mas sou, acima de tudo, muito
realista, quanto ao sistema de como esta indústria (que é a arte de
representação) funciona.
Muitos colegas meus tentaram, mas muito poucos conseguiram
chegar a além-fronteiras. Admiro-os, mas não é o sonho que tenho para mim. Não
digo que seja impossível, mas para mim não é A prioridade, quero fazer um bom
trabalho e percurso, mas não obrigatoriamente lá fora, pelo menos nesta área.
Se acontecer ótimo, mas não gasto a minha energia nesse sentido. Já escrever, por
exemplo, talvez seja algo a explorar além-fronteiras... Hoje em dia, tenho os
meus objetivos muito bem definidos e está tudo numa linha muito harmoniosa.
M.L: Quais são os atores, em Portugal, com quem
gostava de trabalhar no futuro?
P.S: Sou uma sortuda neste
ponto, pois tive a sorte não de trabalhar, mas de ter formação com Raul Solnado
e com António Feio, que já não estão entre nós, e me transmitiram e incutiram
princípios e normas, enquanto artista que jamais esquecerei. Depois têm-se cruzado
no meu caminho profissional, os melhores colegas e profissionais que temos.
Atualmente, trabalho com um conjunto de atores, que só me faz agradecer à vida
por estar a ter esta experiência. Em carteira, ficam ainda Ivo Canelas, Ruy de
Carvalho e Maria João Bastos, em falta.
M.L: Qual foi a situação mais embaraçosa que a marcou,
até agora, enquanto atriz?
P.S: Chegar ao plateau para a 1ª cena da série “Rebelde
Way” (SIC) e dizerem-me: “A cena começa com as 2 personagens aos beijos em
grande clima de paixão”. Imagina!!! Eu que nem conhecia o meu colega na altura.
Fiquei completamente sem jeito e até pensei que fosse partida por ser o meu 1º
dia de gravações!!! Mas era mesmo verdade e acabou por correr tudo lindamente
graças a toda a equipa e colegas e direção de atores.
M.L: Gostava de experimentar outras áreas como, por
exemplo, a escrita?
P.S: Já o faço, há cerca
de 3 anos. Sempre senti uma grande adrenalina e entusiasmo pela escrita, sempre
fui de publicar posts em redes
sociais, intelectualmente provocadores, sempre gostei de um bom debate e sempre
soube expressar muito bem em escrita o que, por vezes, as palavras ditas não
soltam. E, curiosamente, também sempre tive ótimos feedbacks, por parte de quem me “lê”. Isso fez com que o apelo de
avançar com a escrita, tomasse uma forma real e que fez muito sentido para mim!
Assim comecei por começar regularmente a escrever textos soltos e poemas com os
quais criei o Blogue “Paradoxo de Realidades” e, recentemente, textos mais
impactantes, que abordassem temas com os quais as pessoas se identificassem,
aos que chamei de “Crónicas de Santos Paula”. E posso dizer, com alguma
certeza, que a escrita irá continuar a cruzar-se no meu caminho, enquanto
artista e enquanto indivíduo.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, até agora,
enquanto atriz?
P.S: Enquanto atriz e no
meio, foi, sem dúvida, a panóplia de formadores da área que tive no meu
primeiro curso, pois foram eles que me moldaram para o início deste caminho. Mas
não posso deixar de frisar que é quem me dá a mão no meu caminho e quem
acredita em mim que me marca a alma, pela generosidade e confiança que em mim
depositam.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
P.S: Excelente pergunta
para a resposta que há tanto quero dar relativamente a quem diz, sem pensar,
que quer ser ator.
Tenham consciência que
terão de estudar muito! Ter um conhecimento geral de TUDO o que a vida tem, vão
ter de estar informados sobre TUDO, de começar a estar preparados para ler
pessoas, controlar emoções e saber de A a Z, desde profissões a doenças existentes
assim como culturas, religiões, etc.
E principalmente ler muito, ter um vocabulário vasto e estar preparado para
saber esperar.
Logo ser ator/atriz é,
talvez, a profissão mais difícil de gerir.
Por isso, o conselho é:
– Sejam prudentes, quando
escolherem esta profissão, mas arrisquem se estiverem mesmo apaixonados, pois
terão a maior das bênçãos por conseguirem viver outras pessoas em vocês e dar
ao público uma vida com mais cor, emoções e sorrisos.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como atriz?
P.S: Gostava de ter tido oportunidades com
mais regularidade, e de não ter estado durante tanto tempo com a minha imagem
“colada” a séries juvenis pois o trabalho do ator é mostrar sempre algo novo e
tentar não ficar vinculado a um só registo. Mas, no geral posso dizer que o meu
percurso é sóbrio e que, aos poucos, vou conseguindo chegar aos objetivos que
mais ambiciono.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.S: Neste momento, estou
a trabalhar em TV, num projeto com uma qualidade muito grande, de horário nobre
e composto por colegas que admiro muito. Paralelamente, estou com uma peça de
teatro infantil “Missão Terra” no âmbito das ciências do ambiente, no qual
podemos passar por escolas, hospitais, levar um sorriso e aprendizagem sobre os
mais novos, algo que é muito gratificante. E também sou mentora, com a cantora
Kiara Timas, do projeto “O que me traz o maior sorriso”, uma ação individual
que tem como objetivo incentivar quem sai à noite a ajudar os sem-abrigos. Para
já e em curso, estes são os meus projetos aos quais estou dedicada de corpo e
alma. Mas também sou Relações Públicas de um Hostel maravilhoso e estou
envolvida em projetos paralelos que, gradualmente, vão acontecendo. Sou workaholic, logo haverão sempre
novidades quanto ao meu percurso.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
P.S: Poder ajudar pessoas
mais carenciadas, crianças... Estar ligada a grandes causas humanitárias
através da minha imagem, poder conciliar a realização profissional à pessoal, é
e sempre foi a minha maior ambição.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
P.S: Estou numa fase muito
tranquila e harmoniosa da minha vida, por isso neste momento não mudaria nada.
Até porque tudo acontece na altura certa, mais cedo ou mais tarde.ML
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