sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mário Lisboa entrevista... Rosa Guerra

Olá. A próxima entrevista é com a ex-produtora Rosa Guerra. Era proprietária de um táxi, quando o
motorista do realizador americano Franklin J. Schaffner (1920-1989) lhe perguntou se gostava de trabalhar em cinema, tendo aceitado por curiosidade em relação a esse mundo, e desde aí desenvolveu um percurso no meio audiovisual que passou pela televisão e pelo cinema, tendo-se tornado numa das mais respeitadas profissionais do meio. Na televisão, trabalhou na NBP (atual Plural) entre 1992 e 2008 até se demitir por razões pessoais (onde exerceu a função de produtora em produções como "O Bairro da Fonte" (SIC), "Filha do Mar" (TVI), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Ana e os Sete" (TVI), "Inspetor Max" (TVI), "Dei-te Quase Tudo" (TVI), "Ilha dos Amores" (TVI) e "A Outra" (TVI), fazendo parte do grupo que criou a indústria da ficção nacional. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 5 de Fevereiro.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
R.G: Em 1985, eu era proprietária de um Táxi, e um dia estava na praça de táxis do Hotel Meridien, quando o motorista do realizador Franklin (J.) Schaffner me perguntou se não gostaria de trabalhar em Cinema como motorista. Eu disse que ia pensar e decidi aceitar a reunião no então Hotel Estoril Sol. Acabei por aceitar por curiosidade em relação ao mundo do Cinema!!!

M.L: Quais foram as suas influências nesta área?
R.G: Não tive influência de ninguém, apenas o desafio daquele senhor que me via a conduzir o táxi todos os dias. 

M.L: Trabalhou na televisão e no cinema. Qual destes géneros que mais gostou de trabalhar?
R.G: Não direi que gostei mais de um ou outro, mas quer em televisão, quer em cinema recordo momentos inesquecíveis e gratificantes, por um lado ter o prazer de trabalhar com equipas e atores fantásticos alguns dos quais ainda hoje guardo no coração e por outro lado, neste caso na NBP (atualmente Plural), percebi que tinha grandes amigos, inclusive em cargos muito superiores, pois nos momentos mais difíceis da minha vida nunca me senti abandonada. 

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como produtora?
R.G: Eu acho que todos me marcaram de alguma forma. No entanto, terei que realçar o primeiro, que apesar de não ter tido audiências, por ter sido emitido a horas tardias, foi na verdade um grande desafio. O décor construído pela EPC-Empresa Portuguesa de Cenários (grandes profissionais) era deslumbrante de tal forma que a SIC nesse ano fez o lançamento da grelha de programação no mesmo. Ainda me recordo que ao acabar este projeto "O Bairro da Fonte", deparei-me com a equipa da EPC de lágrimas nos olhos por ter que destruir aquele décor. Após este projeto em 2000, seguiram-se vários, tais como "Filha do Mar" (TVI), "Ana e os Sete" (TVI), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Inspetor Max II" (TVI), "A Outra" (TVI), etc. Sem parar até 2008 (o ano em que pedi a demissão por razões pessoais). Desses outros projetos, muito teria para contar, mas não chegariam as páginas nesta entrevista!!! 

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes, enquanto produtora, foi a telenovela “O Olhar da Serpente” que foi exibida na SIC entre 2002 e 2003. Que recordações guarda desse trabalho?
R.G: Foi um projeto difícil de produzir, pela sua logística. Para planificar, pelo facto de a protagonista ter muita incidência na história e os exteriores serem no Porto, foi muito, muito complicado. Por outro lado, também me desagradou a hora em que foi emitido, mais uma vez tardia!!! Coisa que ainda hoje é frequente nos canais televisivos.

M.L: “O Olhar da Serpente” foi o último trabalho do realizador Álvaro Fugulin, que faleceu pouco tempo depois da telenovela ter estreado, com quem já tinha trabalhado anteriormente. Como foi trabalhar com ele?
R.G: Foi maravilhoso. Ele era um grande profissional. Estava muito cansado após este projeto e a administração tinha decidido colocá-lo noutro cargo para o aliviar. Ele estava feliz com essa atenção. Tivemos o jantar de final de projeto num Domingo, e infelizmente na Terça-Feira seguinte recebo um telefonema do Sr. António Parente a participar a morte do Álvaro, que me recusei a acreditar que tal era verdade. Fui eu com indicação da administração que tratei do funeral, que me doeu como se de um familiar se tratasse. Foi muito bom trabalhar com ele.

M.L: Trabalhou, durante vários anos, na NBP (atual Plural). Que recordações guarda do tempo em que trabalhou na produtora?
R.G: Foi na NBP que trabalhei pela primeira vez em televisão no ano de 1992, no primeiro projeto como assistente de produção, a seguir como produtora de estúdio até ao ano 2000, e aí o Sr. António Parente (grande Líder) lançou-me o desafio de produzir pela primeira vez "O Bairro da Fonte", ou seja deixei de ser a chefe de estúdio e passei a produtora. As recordações são boas, apesar de quando me propuseram como produtora me ter sentido insegura de poder não ser tão boa produtora como era chefe de estúdio, daí restam as alegrias de ter sempre cumprido os orçamentos, e ter produzido projetos de grande audiência. Deixa-me feliz não ter deixado mal, quem em mim acreditou.

M.L: A Plural existe, desde 1992. Como vê o percurso que a produtora tem feito, desde a sua fundação até agora?
R.G: Vejo que a ficção nacional veio a crescer de uma forma positiva e que o telespectador já é bastante exigente.

M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual (Cinema e Televisão) em Portugal?
R.G: Dias negros, porque infelizmente o Governo deste país não aposta na Cultura e também porque nunca entendi os critérios de distribuição dos dinheiros para a mesma.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no audiovisual?
R.G: Neste momento, não gostaria de me pronunciar, pois é complicado e não quero iludir ninguém... É esperar por dias melhores…

M.L: Que balanço faz do percurso que desenvolveu como produtora?
R.G: Muito positivo e rico, não em euros. Tranquilidade pessoal e consciência tranquila por ter sido leal à minha própria exigência de bons resultados. Após me ter demitido a administração reuniu comigo e solicitou-me que produzisse a Novela que tinham no momento que foi "A Outra" e assinaríamos o contrato de rescisão, eu aceitei e deixa-me orgulhosa por ter produzido essa Novela como se fosse a primeira.   

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
R.G: Sei lá, dar a volta ao Mundo, saltar de para-quedas, ser rainha de uma marcha popular, pisar um palco de revista, porque também tenho as minhas experiências como pequena atriz. E ganhar um concurso de dança de salão...

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
R.G: Nada. Estou feliz por existir!ML

3 comentários:

  1. Que gostoso de ler, de alguém que conheci nas voltas da vida e de uma forma muito simples a considero como Amiga.Ficou a faltar uma coisa que ainda nao fez, mas irá fazer talvez um dia destes.Beijinho muito GRANDE. Helder Vieira

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  2. OLá Rosinha
    Ao er esta entrevista, veio-me um sorriso grande de recordações de bons tempos em que o trablaho não assustava e que se fazia com toda a paixão.
    Muitas felicidades para o que vem para a frente.
    Beijocas

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  3. ACHO QUE A TUA VIDA TEN-TE SORRIDO SORTE AMOR E PAIXÃO , TU ÉS UM EXEMPLO DA FORÇA DE VONTADE PERSISTENCIA E INTELIGENCIA ACIMA DE TUDO ´, MUITOS SÃO OS QUE QUEREM MAS SÓ ALGUNS CONSEGUEM TRIUNFAR E TU ÉS UM BELO EXEMPLO DO SOSSEÇO DE QUEM QUER E MERECE
















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