M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
R.J.P:
Já tarde. Quando era criança sonhava ser historiador.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
R.J.P:
As minhas primeiras influências estiveram no Expresso, para onde fui trabalhar
ainda muito jovem. O meu primeiro editor foi o Carlos Magno (agora presidente
da ERC), a seguir o Jorge Fiel (agora subdiretor do Jornal de Notícias) e ambos
ajudaram a formatar a minha escrita jornalística. Mas fui buscar também
influências à minha passagem pelo The New York Times, numa fase em que era
muito influenciável. Mas, ainda hoje o sou, e ainda hoje recolho influências de
muitos lados.
M.L: Durante o seu percurso como jornalista, trabalhou
na imprensa, na rádio e na televisão, sendo, atualmente, Diretor-Adjunto de
Informação da Agência Lusa. Qual destes meios de comunicação mais gosta de
trabalhar?
R.J.P:
Cada um desses meios tem um encanto particular. Gosto da Imprensa, pela escrita
analítica, pela necessidade de explicar o que vemos. Gosto da Rádio, pelo
intimismo que provoca, pela oralidade que nos prende à pele. Gosto da TV, pela
complementaridade da imagem e do som, pela visibilidade que ela atribui ao que
se faz. Gosto da agência, pela velocidade da circulação da informação, pelo
efeito dispersor da linha da Lusa, pela importância que aí tem a sua muito
dispersa rede de correspondentes.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
R.J.P:
Não consigo destacar um, em particular. Mas confesso que me marcou a
investigação que conduzi no Expresso sobre a Fundação Prevenção e Segurança,
pela capacidade que teve em desmantelar alguma coisa que não era
democraticamente saudável, sendo até politicamente consequente (levou à
demissão de um ministro).
M.L: Além do jornalismo, também é professor. Em qual
destas funções em que se sente melhor?
R.J.P:
Gosto de ter as duas funções ao mesmo tempo e do efeito pendular que isso
provoca: tento levar para a sala de aula a experiência de jornalista e tento
levar para as Redações o resultado do esforço de reflexão crítica das salas de
aula.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
R.J.P:
Os media estão a atravessar um
período crítico: o seu modelo de negócio (a Publicidade) faliu, ao mesmo tempo
que sentem o impacto implacavelmente modificador das plataformas digitais. Mas
este momento crítico pode ser um momento de oportunidade, se houver bom senso e
competência. Infelizmente, em alguns casos não existe nenhum desses elementos.
Felizmente, enquanto consumidores de informação, temos hoje muitas mais opções
de escolha.
M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter
ficado lá?
R.J.P:
Cada decisão implica deixar para trás muitas outras. No momento em que me foi
oferecido um lugar na Universidade do Texas hesitei: era uma tentação muito
forte. Mas do outro lado do Atlântico tive outras ofertas que na altura me
seduziram ainda mais. Nunca saberei o que teria sido melhor para mim.
M.L: Desde 2004 que é comentador residente da RTP na
área da Política Nacional. 57 anos depois da sua fundação, como vê, hoje em
dia, o canal?
R.J.P:
A RTP é uma Televisão de bandeira, num continente em que os meios de
comunicação estatais são relevantes. No momento em que se pensa o futuro de uma
estação de televisão estatal, há muitas opções
para a RTP: todas têm vantagens e desvantagens. A única coisa que não traz benefícios
é não haver decisões, porque a ausência de um rumo é sempre negativo. Quando
não se sabe para onde se vai, não se vai a lado nenhum.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
R.J.P:
Que seja persistente. Vale a pena. Apesar de todas as dificuldades. O
jornalismo é uma profissão fascinante. Porque não há nada mais fascinante do
que entender o que se passa à nossa volta. E explicar isso de forma clara,
precisa e concisa a quem nos quer ouvir.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como jornalista?
R.J.P:
Tenho a felicidade de ter tido as melhores oportunidades que um jornalista pode
ter. O JN, o Expresso, a RTP, a Lusa são lugares fantásticos para se fazer
jornalismo. E tive o privilégio de os poder experimentar e de crescer em cada
um deles.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.J.P:
Confesso que mal tenho tempo para gerir estes projetos em que estou envolvido.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
R.J.P:
Escrever discursos para o Presidente dos Estados Unidos da América.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
R.J.P:
Profissionalmente, gosto mesmo muito do que estou a fazer. E estou rodeado das
pessoas certas.ML
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