Olá. A próxima entrevista é com a diretora da marca MyLisbon Fashion, produtora de eventos e escritora Cristina Fernandes de Abreu. Enquanto produtora de eventos concebeu e produziu por exemplo o European Film Festival e entre 2008 e 2009 trouxe a Portugal, o conhecido especialista em guiões Robert McKee, enquanto escritora publicou em 1988 dois poemas que fizeram parte da "V Antologia de Poesia Contemporânea" e em 2010 lançou o seu primeiro livro intitulado "Confrontos Encantos Encontros" e também em 2010 criou a marca MyLisbon Fashion (da qual é diretora) que é uma marca que se baseia num conceito simples e inovador: aplicar a cultura de Lisboa na moda. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 1 de Agosto.
M.L: Como é que surgiu a ideia de criar a MyLisbon Fashion?
C.F.A: A ideia de criar a MyLisbon surgiu após uma análise que fiz a alguns produtos em que havia uma expressão da nossa cultura. Após essa análise conclui que efetivamente não havia um produto na moda que conseguisse de forma original e elegante transmitir os vários elementos criativos que temos à nossa disposição quer na Cidade de Lisboa ou outros que se espalham pelo País como sejam a Calçada Portuguesa ou mesmo o Azulejo. Testada a ideia, achamos que tinha um enorme potencial para ser lançada e assim a MyLisbon enquanto conceito e produto aparece no mercado português.
M.L: Que balanço faz deste último ano e meio de existência da marca (a MyLisbon Fashion foi criada em 2010)?
C.F.A: Faço um balanço bastante positivo. Conseguimos e seguindo o nosso plano estratégico para a marca atingir os nossos objetivos. A marca foi colocada em pontos que para nós eram importantes como o Centro Cultural de Belém, o Turismo de Lisboa e o Museu do Azulejo, mais recentemente numa loja multimarca a “Chocolat Colours” no Restelo e até ao final do ano acreditamos conseguir atingir mais alguns objetivos, o que me permite afirmar que estamos no caminho certo no que respeita ao desenvolvimento do conceito e à conceção dos produtos MyLisbon.
M.L: Como tem sido a reação do público à MyLisbon Fashion?
C.F.A: Uma reação bastante positiva, o conceito agradou e a originalidade e elegância das peças também. Foi com agrado que temos sentido a aceitação quer por parte da Mulher portuguesa quer por parte da Mulher estrangeira. Não era nossa intenção que a MyLisbon fosse uma marca identificada somente como produto para turistas, não é de fato! A Mulher portuguesa tem aderido ao conceito da marca, o que nos permite afirmar que é possível vender peças com grande expressão cultural portuguesa a clientes portugueses. Satisfaz-nos bastante esta adesão. Também nos agrada sentir no entanto que o cliente estrangeiro se entusiasma pelo conceito e pelas peças.
M.L: Quantos colaboradores tem na MyLisbon Fashion?
C.F.A: A MyLisbon tem várias pessoas a colaborar na marca cerca de 7 pessoas nesta primeira fase.
M.L: É uma apaixonada confessa por Lisboa. Como vê atualmente a cidade?
C.F.A: Eu vejo sempre a Cidade de Lisboa de uma forma muito apaixonada e com um olhar muito deliciado pela quantidade de elementos que me inspiram e consequentemente inspiram a MyLisbon. Já o referi anteriormente que Lisboa tem os seus defeitos como terão todas as grandes Cidades da Europa ou do mundo, mas são questões que não me afetam enquanto criativa e enquanto habitante. Vejo que se trabalha para melhorar ou retificar o que pode estar menos bem, o que me agrada. Continuo a ver uma Cidade muito iluminada com um azul que se confunde com o rio, com um cheiro muito característico, com bairros cujas cores e vivências são fabulosas e com muitos monumentos, recantos e jardins que definitivamente a tornam uma das mais belas Cidades que já conheci.
M.L: Além de ser a diretora da MyLisbon Fashion também teve experiência como produtora de eventos e como escritora tendo lançado em 2010, o seu primeiro livro intitulado “Confrontos Encantos Encontros”. Como é que surgiu o interesse pela escrita?
C.F.A: O meu interesse pela escrita aparece por volta dos meus 12 anos. Nessa idade, eu comecei a colocar no papel o que se ia construindo dentro de mim, escrevi muita poesia, cheguei a editar alguns poemas, escrevi vários contos e com o evoluir dos anos comecei a escrever o que se tornaria num romance de ficção. A escrita faz parte de mim, escrevo com muita frequência com intenção ou não de poder vir a publicar. Aconteceu com alguns poemas e também com o meu primeiro livro. Publicar não é para mim o objetivo maior, quando escrevo: escrevo simplesmente, porque gosto muito e tenho sempre muito para contar no papel.
M.L: Quais são as suas grandes influências como escritora?
C.F.A: Eu sou uma leitora compulsiva desde sempre, mas não considero que haja uma influência direta de algum escritor na minha escrita, não o sinto. Penso que terão existido pessoas que contribuíram definitivamente para este meu quase vício de ler e escrever: o meu pai foi uma dessas pessoas, lia muito, nunca escreveu, mas lia muito e muita da minha leitura enquanto adolescente era feita ao lado dele. Também um tio meu, Jorge Fernandes da Silva que editou ainda algum material no Brasil, onde vivia foi sempre uma referência no meu caminho, mas não uma influência direta na minha forma de escrita.
M.L: Como produtora de eventos concebeu e produziu por exemplo o European Film Festival e entre 2008 e 2009 trouxe a Portugal, o conhecido especialista em guiões Robert McKee. Como é que surgiu essas duas oportunidades?
C.F.A: Foram de fato oportunidades. O European Film Festival surgiu de um trabalho fantástico de equipa e porque sempre considerei que um Festival de Cinema dentro do conceito European Film Festival poderia ser um sucesso em Portugal por ser completamente inovador. No que respeita a Robert McKee foi sempre um homem que segui de perto e quando há 8 anos atrás resolvi fazer um curso de escrita para aperfeiçoar pontos que eu julgava importantes de aperfeiçoar na minha escrita encontrei o “Story” de Robert McKee que li atentamente e pensei sempre que quando me fosse possível o traria a Portugal. Foi um desafio que estabeleci a mim própria e na altura possível, ele veio a Portugal. Foi um sucesso ter conseguido, porque de fato superou as expectativas. Penso que quem assistiu ao seminário Story e ao seminário Genre não ficou de forma alguma indiferente. É um homem e um profissional brilhante com muito para nos ensinar.
M.L: Houve algum momento que a tenha marcado, durante o seu percurso profissional?
C.F.A: Robert McKee marcou definitivamente, foi uma relação que mantenho até hoje com grande orgulho, porque é de fato um homem que tive um enorme prazer em conhecer e que é uma fonte inesgotável de saber e de valores. A abertura do Festival de Cinema também me marcou, foi o culminar de muitos anos de trabalho. O reconhecimento da MyLisbon enquanto conceito inovador e o convite da Santa Casa da Misericórdia para representar Portugal num evento que se realizou na Rua do Carmo “Lusofonia da Moda” em 2011 no Ano Europeu do Voluntariado foi outro momento que me marcou enquanto profissional e enquanto ser humano.
M.L: Como vê atualmente a Cultura em Portugal?
C.F.A: Portugal é um país para onde deveremos olhar com muita esperança e onde deveremos colocar todo o nosso esforço criativo permitindo que o país se abra cada vez mais à inovação. Há grandes oportunidades para explorar no mundo cultural e penso que nas alturas mais difíceis não há lugar para baixar os braços, mas sim lugar para trabalhar muito e cada vez melhor. Sabemos fazer coisas extraordinárias e é preciso mostra-lo dentro e fora do país e com a ajuda devida acredito que seremos capazes de o fazer e já temos provas dadas na música, na moda, na literatura, entre outras. Há certamente nesta palavra Cultura lugar para dizer: que se aprenda a ler mais, que se visitem mais exposições, há que saber apelar para que todos se deixem chamar para a Cultura, assim os povos evoluem.
M.L: Que expectativas tem em relação ao Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas?
C.F.A: Não tenho qualquer tipo de expectativa, o Senhor Secretário de Estado está ainda há pouco tempo em funções. Desejo que o trabalho a que se propôs o consiga com êxito, acredito que haverá muito a fazer nesta área tão importante quanto outras evidentemente.
M.L: Gostava de ter trabalhado no estrangeiro?
C.F.A: Não aconteceu por mero acaso, mas como sempre trabalhei e continuo a trabalhar com muitos estrangeiros e sempre viajei muito tenho uma boa perceção do que seria trabalhar num país estrangeiro. Em alguns países talvez gostasse de ter trabalhado algum tempo, mas considero que o trabalho que faço aqui em Portugal me satisfaz plenamente. Devemos estar abertos ao que se faz pelo mundo fora, o que não quer dizer que em Portugal não se possa fazer tão bem ou melhor do que em países estrangeiros.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou até agora, durante o seu percurso profissional?
C.F.A: Houve muitas pessoas em vários períodos da minha vida que me marcaram pelo seu profissionalismo, pela sua ética nos negócios, pela sua visão, pela sua forte componente humana. Robert McKee e a Dr.ª Márcia Trigo foram duas dessas pessoas que muito estimo e admiro.
M.L: Está com quase 50 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
C.F.A: Confesso que nunca tinha pensado nisso! Mas sinto-me muito bem com imensos projetos ainda para desenvolver, com imensa vida para viver. A idade nunca me assustou, é um percurso natural e que eu encaro de forma natural e portanto pensar que tenho quase meio século é absolutamente fantástico. Já vivi o suficiente para valorizar muito a vida que é uma dádiva maravilhosa e que tem esta componente que lhe acrescenta ainda mais valor, todos os dias podemos aprender mais, melhorar mais, construir mais e a qualquer altura mudar se for necessário.
M.L: Houve algum trabalho que a tenha marcado, durante o seu percurso profissional?
C.F.A: Todos os projetos em que me envolvi foram muito importantes na minha vida. Não distingo nenhum deles: todos (no período em que ocorreram) marcaram de certa forma o meu percurso, o acumular de experiências se quisermos e soubermos aproveitar é um dos bens mais importantes que vamos transportando ao longo da vida e isso permite crescer em termos profissionais e pessoais.
M.L: Que balanço faz do seu percurso profissional?
C.F.A: Um balanço muito positivo, tudo o que fiz sempre me deu imenso prazer. Gosto muito do que faço atualmente, portanto que mais poderia desejar?
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.F.A: Os meus próximos projetos prendem-se muito com o desenvolvimento da MyLisbon, com o lançamento do meu segundo livro e com mais alguns pequenos projetos que neste momento ainda não posso revelar, mas que estão ligados à escrita e ao argumento.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
C.F.A: Ainda tenho imensa coisa para fazer, vou vivendo e fazendo o que no momento mais requer a minha atenção e o meu trabalho. Tenho uma viagem que gostaria de fazer com tempo para pesquisar alguns assuntos para um futuro livro: uma viagem ao Japão. Vamos ver, quando conseguirei. Mas confesso que muito do que gostaria de fazer na minha vida já consegui fazer.
M.L: O que é que gostava que mudasse na sua vida?
C.F.A: Absolutamente nada. Adoro a vida profissional e pessoal que tenho e sou uma pessoa muito feliz. Aceito as pequenas contrariedades da vida, deliro com as coisas fantásticas que a vida me proporciona e procuro sempre o lado positivo de tudo o que me é colocado no meu caminho.ML
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