quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Mário Lisboa entrevista... Teresa Côrte-Real

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Teresa Côrte-Real. Filha da atriz Madalena Braga e mãe do ator Francisco Côrte-Real, desde muito cedo que se interessou pela representação tendo desenvolvido um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Cinzas" (RTP), "Verão Quente" (RTP) e "A Grande Aposta" (RTP) para além de ser também professora e em 2012 celebra 40 anos de carreira e recentemente participou nas peças "O Comboio da Madrugada" de Tennessee Williams e "As Bruxas de Salem" de Arthur Miller, dois projetos que contaram com encenação de Carlos Avillez que é o diretor do Teatro Experimental de Cascais da qual é atriz residente desde 1991. Esta entrevista foi feita no passado dia 15 de Setembro no Teatro Rivoli no Porto na altura em que a entrevistada estava em cena com a peça "O Comboio da Madrugada".

M.L: Como é que tem corrido a peça “O Comboio da Madrugada”?
T.C.R: Muito bem. O público do Porto tem sido muito carinhoso e tem corrido muito bem esta etapa de “O Comboio da Madrugada”.

M.L: Como é que surgiu esta peça?
T.C.R: Portanto, nós somos do Teatro Experimental de Cascais. O diretor Carlos Avillez decidiu fazer uma peça com a Eunice Muñoz que já tinha trabalhado aliás com o Teatro Experimental de Cascais há muitos anos e trouxe-nos a peça e trouxe-nos a Eunice para trabalhar connosco.

M.L: “O Comboio da Madrugada” é encenada por Carlos Avillez com quem já trabalhou anteriormente. Como é trabalhar com ele?
T.C.R: Muito bom. Eu conheço o Carlos Avillez há muitos anos, porque ele foi encenador várias vezes da minha mãe que era atriz também, a Madalena Braga. Foi uma atriz que começou aqui no Porto no Teatro Experimental do Porto e que depois começou a trabalhar em Lisboa tinha eu uma idade muito pequena. Portanto, tinha eu por volta de dois anos fui para Lisboa e entretanto eu conheci o Carlos melhor por volta dos meus quinze anos, quando a minha mãe voltou a trabalhar com ele no Teatro Maria Matos e sempre gostei de pensar que um dia viria a trabalhar com ele e em 1991 ele chamou-me para a companhia dele e eu fiquei com ele a trabalhar.

M.L: Qual é a personagem que interpreta nesta peça?
T.C.R: Uma viúva italiana a quem mataram o marido e pressupõe-se que foi a personagem da Eunice, a Sra. Goforth que mandou matar o marido desta mulher.

M.L: Como classifica a sua personagem?
T.C.R: É uma personagem trágica.

M.L: Como é contracenar com Eunice Muñoz?
T.C.R: Extraordinário. Eu já tinha tido esse prazer no “Romance de Lobos” no Teatro Nacional (D. Maria II) que foi encenado por Blanco Gil. Tinha trabalhado com a Eunice nessa altura e agora muitos anos mais tarde tenho trabalhado outra vez e a Eunice é a nossa primeira-dama do teatro e é sempre uma honra trabalhar com ela.

M.L: Como tem sido a reação do público a esta peça?
T.C.R: Muito boa. Como já lhe disse, muito boa tanto em Lisboa (aliás em Cascais e no Estoril, onde é o nosso teatro) como aqui no Porto.

M.L: A peça é um original de Tennessee Williams. Como classifica esta peça?
T.C.R: A peça é sobre a vida de uma mulher extraordinária que por vezes até nos lembra a nossa Eunice Muñoz, uma mulher com uma vida e uma carreira especial e portanto são os dois últimos dias da vida dela tanto até à sua morte.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
T.C.R: Muito cedo (mais ou menos). Eu fiz várias coisas. Comecei por fazer dança, a minha mãe e o meu pai estavam ligados ao teatro e eu por volta dos 19 anos resolvi candidatar-me à Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa no antigo Conservatório Nacional.

M.L: Dedicou praticamente a sua vida profissional ao teatro. Gostava de ter trabalhado mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
T.C.R: Eu trabalhei. Eu fiz dois filmes: um com Franco Zeffirelli que esteve em Portugal há muitos anos (“A Vida do Jovem Toscanini” (1988) e fiz com o Mestre Manoel de Oliveira “Os Canibais” (1988). Depois, cinema não surgiu mais, fiz televisão: fiz bastantes séries, onde eu apareci e fiz há por volta de 4 telenovelas.

M.L: Qual foi o trabalho que a marcou tanto no teatro, no cinema e na televisão, durante o seu percurso como atriz?
T.C.R: Talvez a “Marianna Alcoforado” encenada por Carlos Avillez.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Verão Quente” (RTP), onde interpretou a personagem Cristina Pereira. Que recordações leva desse trabalho?
T.C.R: Muito boas. Portanto, eu trabalhei nessa telenovela com um diretor brasileiro (Regis Cardoso). Foi uma experiência muito boa, onde eu fazia um papel muito positivo de uma rapariga que gostava de um rapaz que gostava de outra, portanto era traída e foi uma telenovela que me deu muito prazer em fazer. Muito prazer.

M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
T.C.R: Não lhe posso dizer, já fiz tanta coisa e gostei de tantos trabalhos que fiz sendo pequenos como grandes que acho que a minha carreira é marcada por muitas alegrias.

M.L: Foi uma das fundadoras da companhia Persona-Teatro de Comédia, C.A.R.L. O que a levou a querer fundar a companhia?
T.C.R: O teatro Persona foi uma companhia fundada pelo Guilherme Filipe, o António Cordeiro e a primeira peça que foi feita nessa companhia foi “O Barbeiro de Sevilha”. Estava grávida do meu filho nessa altura e eles convidaram-me para fazer parte desse primeiro espetáculo e eu fui fazê-lo. Formar uma companhia é sempre uma coisa especial.

M.L: Que recordações leva do tempo em que esteve na companhia?
T.C.R: Muito boas. Estive por pouco tempo, mas que entretanto tive o meu filho e tive que abandonar, mas eles continuaram.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
T.C.R: Acho que nós temos grandes atores e que se fazem muito boas coisas.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
T.C.R: Talvez gostasse, mas neste momento isso não se põe como questão.

M.L: Em 2012 celebra 40 anos de carreira desde que começou em 1972. Que balanço faz destes 40 anos?
T.C.R: Com altos e baixos. Portanto em 1972 estreei-me no Teatro Monumental com a peça “Pinóquio” ainda com o empresário Vasco Morgado e enquanto fazia os estudos fui fazendo rádio com a minha mãe e com vários diretores como o Curado Ribeiro, o Varela Silva e depois ingresso na Escola Superior de Teatro e Cinema, onde eu tiro exatamente o meu curso. É uma carreira com altos e baixos.

M.L: É mãe do ator Francisco Côrte-Real. Como vê o percurso que o seu filho fez até agora?
T.C.R: Muito bom. O Francisco começou nos “Morangos com Açúcar” (TVI), depois ele foi chamado para vários outros trabalhos, já fez dois trabalhos em teatro: um encenado por mim no Teatro da Trindade (“Temparantia-Estou de Dieta”) e outro agora no Teatro Eunice Muñoz com o encenador Celso Cleto (“Casa de Pássaros”). Eu sendo mãe é sempre difícil de sermos objetivos, mas como nasci no teatro tenho do meu filho um grande orgulho e vaidade, porque acho que tem muita qualidade como ator.

M.L: Desde 1991 que é atriz residente do Teatro Experimental de Cascais. Que balanço faz do tempo em que está na companhia?
T.C.R: Muito bom. Com trabalhos muito bons, muito bem-feitos, encenados por Carlos Avillez que é o diretor da companhia, mas é um bom percurso.

M.L: Está com quase 50 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
T.C.R: Já tenho 51, fiz este ano 51. Feliz (acho eu), não me considero uma mulher infeliz.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
T.C.R: Não faço ideia, serão os projetos do meu diretor. Entretanto, vou continuar a dar aulas na Escola de Dança Ana Mangericão, onde já dou aulas há muitos anos e também na Escola Profissional de Teatro de Cascais, portanto isto vai ser uma das coisas que eu vou voltar a fazer e com o Carlos é aquilo que ele desejar e quiser.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
T.C.R: Não sei, não tenho assim nenhum sonho em especial.

M.L: Se não fosse a Teresa Côrte-Real, qual era a atriz que gostava de ter sido?
T.C.R: A Eunice Muñoz.ML

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