Olá. A próxima entrevista é com a escritora Rita Ferro. Filha do escritor António Quadros, neta dos também escritores Fernanda de Castro e António Ferro e mãe do humorista Salvador Martinha, desde muito cedo que se interessou pela escrita tendo iniciado a sua carreira como escritora em 1990 com o livro "O Nó na Garganta" e desde aí desenvolveu um bem-sucedido percurso com 21 anos de existência celebrados em 2011 para além de ser também cronista e teve experiências na publicidade e como professora e apresentadora sendo também uma das comentadoras dos programas "Conversas de Raparigas" da Antena 3 e "Moeda de Troika" da RTP Informação e recentemente lançou o seu romance autobiográfico "A Menina é Filha de Quem?", onde revela a sua história de vida tanto pessoal como familiar. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 5 de Setembro (a pedido da entrevistada, esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico).
M.L: Como é que surgiu o interesse pela escrita?
R.F: Foi tão natural como crescer. Sempre gostei de me relacionar com os outros pela escrita. Em pequena, quando queria muito uma coisa dos meus pais era escrevendo que formulava o pedido. E oferecia sempre versos aos meus amigos e a pessoas da família, quando faziam anos.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto escritora?
R.F: Não tenho influências conscientes. Nenhuma. Penso que levei um grande empurrão com o realismo mágico do Juan Rulfo e do (Gabriel García) Marquez. Não na forma de escrever, mas na forma de discorrer literariamente. Mas é uma coisa que não transparece e que só eu sei. Digamos que me ajudaram a romper com algumas regras da minha cartilha maternal.
M.L: Qual foi o livro que lhe deu mais prazer em escrever?
R.F: Foi “A Menina Dança?”, porque o processo é diferente de todos. Frase, espaço, frase, espaço. Era fascinante, porque seguia a música como se tocasse de ouvido. Foi muito interessante e surpreendeu-me. O público não adorou, mas isso é outra conversa.
M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu percurso como escritora?
R.F: Uma ou outra crítica generosa de pessoas que eu não esperava. São coisas que dão sempre satisfação.
M.L: Além da escrita também é cronista e teve experiências na publicidade e como professora e apresentadora. Qual destas funções em que se sente melhor?
R.F: Publicitária. De longe. Não sinto que tenha a mínima vocação e a mínima pachorra para ser professora. A insolência dos alunos deixa-me histérica.
M.L: Como vê actualmente a Cultura e a Comunicação Social em Portugal?
R.F: Vejo a cultura sempre com grande preocupação, mas não só a nossa. Acho que ela tem obrigação de atrair o homem comum e não é isso que faz normalmente. Isto é verdade para a literatura e para o teatro. Abençoados os que se oferecem para oferecer um produto de transição entre os jornais desportivos e Proust. As pessoas vão aprendendo e apreendendo à medida que vão evoluindo.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
R.F: Nunca lamentei e não é agora que vou lamentar. Sou muito portuguesa, demasiado portuguesa. 99% dos livros que leio são portugueses, tenho essa limitação tremenda. É uma paixão, sempre foi. Sou menina para vibrar mais com o Raul Brandão do que com o Musil.
M.L: Este ano (2011) celebra 21 anos de carreira como escritora desde que começou com o livro “O Nó na Garganta” em 1990. Que balanço faz destes 21 anos?
R.F: Conseguir aguentar-me e sustentar-me só através da escrita, durante todos estes anos tem sido uma grande, enorme felicidade.
M.L: Qual foi a personalidade da Cultura que a marcou, durante o seu percurso como escritora?
R.F: Talvez a Marguerite Yourcenar que é uma mulher espantosa. Há uma entrevista dela ao Bernard Pivot que ainda tenho presente na minha cabeça. Não já o que dizia, mas as expressões, a forma de falar, a expansão da sua personalidade encantatória. Ainda me lembro da casa com todo o pormenor.
M.L: Actualmente é uma das comentadoras do programa “Conversas de Raparigas” da Antena 3. Que balanço faz do tempo em que está no programa?
R.F: Já lá vão 4 anos de antena, penso. Ou 5. Foi sempre uma diversão e uma fonte de amizade. Aquelas 3 meninas são hoje da minha família. Ou quase.
M.L: Como é que surgiu a ideia de fazer o programa?
R.F: Um convite do Rui Pêgo (director de programas da RDP) que aceitei com muito gosto.
M.L: É mãe do humorista Salvador Martinha. Como vê o percurso que o seu filho fez até agora?
R.F: Vejo com alegria e admiração, porque sei que ele não usa de nenhuma influência para se afirmar. A maioria das pessoas nem sabe que sou mãe dele. Enfim: apresentar dois programas de TV com 27 anos e encher as salas todas, onde actua é um motivo de orgulho. Para além disso, adoro-o e sou grande fã.
M.L: Está com quase 60 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
R.F: E se eu não quisesse dizer a minha idade? Ah, esse cavalheirismo que já não é o que era... Como é que eu me sinto ao chegar? Quando chegar saberei, para já nem penso na idade, faltam 4 anos (risos).
M.L: Quais são os seus próximos projectos?
R.F: Um programa de TV e um livro de ajuda, mas não quero ainda falar de nenhum deles.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
R.F: Viajar, durante dois meses com um grupo de amigos e algum dinheiro. É totalmente impossível, mas gostaria muito.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
R.F: Gostava (como qualquer pessoa) de não ter de me preocupar mais com a subsistência. Trabalharia na mesma (é claro), mas não por obrigação.
M.L: Se não fosse a Rita Ferro, qual era a escritora que gostava de ter sido?
R.F: Se não fosse a Rita Ferro, não me preocuparia com isso. Sendo, ainda menos, ah! Mas tiro o chapéu à Agustina!ML
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