Olá. A próxima entrevista é com o realizador Henrique Pina. Foi aos 12 anos que decidiu ser realizador de cinema tendo sido licenciado em Film&Screen Practice em Roehampton University em Inglaterra e recentemente realizou a curta-metragem "Tejo" que concebeu em conjunto com o guionista Francisco Baptista (que conhece desde os tempos da Escola Secundária) da qual foi inspirada pelo filmnoir contando a história de um cínico inspetor que investiga um homicídio sinistro tendo também passado por vários festivais de cinema e ficou em terceiro lugar dos prémios Zon-Criatividade Multimédia 2010 e contou com a participação de atores como Filipe Duarte, Adriana Moniz, Miguel Seabra, Ana Bustorff e Rosa do Canto que aceitaram participar no projeto, mas sem remuneração. Esta entrevista foi feita por via email em Junho passado.
M.L: Como é que surgiu a ideia de fazer este projeto?
H.P: A ideia inicial nasceu com a vontade de explorar um género cinematográfico que ainda não havia sido devidamente abordado em Portugal. O Francisco Baptista (argumentista do filme) apresentou-me um guião cuja narrativa seguia assumidamente as linhas conceptuais do filmnoir e que tinha como palco uma cidade que ambos adoramos: Lisboa. Sabíamos que era uma ideia arrojada e um desafio difícil, mas isso também puxou por nós.
M.L: “Tejo” contou com a participação de atores como Filipe Duarte, Adriana Moniz, Miguel Seabra, Ana Bustorff e Rosa do Canto que aceitaram participar no projeto, mas sem remuneração. Como é que conseguiu convencê-los a participar no projeto com essa condição?
H.P: Tudo começa no argumento. Se o argumento for bom, eles acreditam no projeto. Se acreditarem no projeto e na nossa abordagem ao filme, se todos estivermos em sintonia e se ao longo da produção conseguirmos manter as motivações e as ambições bem elevadas é muito fácil ter o privilégio de contar com atores de qualidade a trabalharem connosco empenhados.
M.L: A curta-metragem foi inspirada pelo filmnoir. Este é um tipo de género cinematográfico que lhe agrada muito?
H.P: Tenho alguma dificuldade em dizer que gosto do género x ou y. Acho que é possível encontrar e fazer bons filmes seguindo as linhas condutoras de qualquer género. No caso do filmnoir gosto particularmente das características visuais, do peso que a imagem tem, da forma poética que cada palavra é dita.
M.L: “Tejo” foi exibida recentemente no Auditório Carlos Paredes em Lisboa e no New York Portuguese Short Film Festival em Nova Iorque. Qual foi a reação do público ao projeto, durante essas duas exibições?
H.P: Tivemos um ótimo feedback, o que nos dá imensa força. O "Tejo" foi também recentemente selecionado para o festival internacional de curtas CinemadaMare, o qual possibilitará mais exibições públicas do filme e é isso que nós queremos: que as pessoas vejam o nosso trabalho.
M.L: Qual foi o momento mais marcante para si, durante as filmagens de “Tejo”?
H.P: O momento mais marcante, durante a produção do filme foi a véspera de começarmos as filmagens. Até esse dia, tanto eu como o Francisco (argumentista e co-produtor) não tínhamos parado com contatos para a equipa e a ultimar os preparativos. Quando todos os pormenores ficaram tratados para as filmagens do dia seguinte caiu-me tudo em cima: o peso da responsabilidade de estar a trabalhar com uma equipa de profissionais experientes e atores famosos, as dúvidas em relação à nossa capacidade de executar este trabalho da forma que queríamos, os detalhes de que eventualmente nos teríamos esquecido de tratar, etc. Tomei consciência de que não podia falhar e que se iriam seguir três dias de uma concentração e dedicação extrema. Felizmente correu tudo da melhor maneira.
M.L: Que recordações leva das filmagens de “Tejo”?
H.P: As recordações que mais ficam são as da entrega da equipa. Ver gente daquele calibre, daquela experiência tão dedicada a um projeto que estávamos a criar todos em conjunto foi um privilégio que nunca esquecerei. É por isto que faço cinema.
M.L: De todos os atores do elenco de “Tejo”, qual foi que teve o melhor desempenho na sua opinião?
H.P: Todos. Cada um à sua maneira. No entanto, talvez por nunca o ter visto no ecrã confesso que o Miguel Seabra foi a maior surpresa.
M.L: Como classifica este projeto?
H.P: Nesta fase, depois de já ter visto o filme algumas centenas de vezes é difícil estabelecer uma distância que me permita classificar este projeto. Contudo, olhando especificamente para cada área de um ponto de vista mais técnico acho que o Paulo Segadães com a ajuda do Tó Zé Ribeiro foi um diretor de fotografia incrível, a equipa de som a começar no Jorge Pacheco e a acabar na Ameba fizeram um trabalho extraordinário, a Marta Azenha e a Daniela Coelho possibilitaram um perfeccionismo no guarda-roupa de louvar, o Cauê foi perfeito na maquilhagem e por aí fora. Reconheço em todos esses aspetos, um trabalho notável.
M.L: Como é que surgiu o interesse pelo cinema?
H.P: O interesse pelo cinema surgiu a partir da vontade de contar histórias. Cheguei a um ponto em que se não conseguisse partilhar aquilo que imaginava sufocava. E então aos 12 anos decidi que iria ser realizador de cinema. Depois parecia que quanto mais explorava, quanto mais aprendia, quanto mais pesquisava, maior era o interesse.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto realizador?
H.P: Tenho várias e provavelmente vou-me esquecer de algumas. Talvez a maior seja o George Lucas. Um visionário e um lutador tal como (Charlie) Chaplin ou (Alfred) Hitchcock. Com quem eu me identifico mais na forma de contar uma história é o Christopher Nolan especialmente no "The Prestige" (“O Terceiro Passo” (2006) ou "The Dark Knight" (“O Cavaleiro das Trevas” (2008). Noutro ponto de vista sem dúvida aquilo que mais me inspirou até hoje foi a série "Six Feet Under" (“Sete Palmos de Terra” (2001-2005) do Alan Ball.
M.L: Qual foi a longa-metragem que viu e que o marcou até agora?
H.P: "Big Fish" (“O Grande Peixe” (2003) do Tim Burton. Tem um pouco de tudo como a própria vida. E se puder juntar mais um, "Forrest Gump" (1994) pelos mesmos motivos.
M.L: Como vê atualmente o cinema em geral?
H.P: Atualmente, acho que faltam ideias. Por um lado, olhando para o cinema mainstream a sair de Hollywood há demasiadas sequelas, prequelas, remakes e adaptações. É difícil de encontrar um produto genuíno e original de qualidade a sair de lá. Existem, mas quando olhamos para as décadas de 70 e 80 e comparamos, reparamos como estão em minoria. Por outro lado, acho que se faz bom cinema na Europa e em Portugal, mas não se dá qualquer atenção ao valor comercial dos filmes. Gasta-se muito dinheiro em cinema, mas gasta-se mal na minha opinião. Não tenho nada contra o cinema de autor, mas os filmes de ficção são para contar uma história e não para alimentar o ego pseudo-intelectual do realizador. Isto mostra-nos dois extremos do mesmo universo e na minha opinião deve-se encontrar um meio-termo entre o cinema comercial de Hollywood e o cinema unicamente artístico Europeu.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
H.P: Para já, não está nos meus planos. Há muito por fazer em Portugal e é aqui que quero dar continuidade ao meu trabalho em conjunto com o meu argumentista preferido.
M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava de trabalhar no futuro?
H.P: Cada filme tem as suas personagens e cada personagem merece o seu ator. Há ótimos atores em Portugal, é só uma questão de os relacionarmos às personagens que criamos.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
H.P: Estou agora a produzir um videoclip para ANDYcode (www.andycode.net) e quero fazer uma nova curta-metragem em Setembro.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
H.P: Estou-me a preparar para um projeto futuro, mas é segredo. Dentro de umas décadas espero mostra-lo.
M.L: Se não fosse o Henrique Pina, qual era o realizador que gostava de ter sido?
H.P: O Jean-Luc Godard, só para ver a Brigitte Bardot tantas vezes e com tão pouca roupa.ML
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