Olá. A próxima entrevista é com a atriz Lídia Muñoz. Neta da atriz Eunice Muñoz, desde muito cedo que se interessou pela representação tendo sido formada na área da representação pela Escola Profissional de Teatro de Cascais e recentemente participou na telenovela "Mar de Paixão" (TVI) e na peça "O Comboio da Madrugada" de Tennessee Williams que contou com encenação de Carlos Avillez (que foi seu professor, durante o tempo em que esteve na Escola Profissional de Teatro de Cascais), dois projetos que contaram com a participação da sua avó. Esta entrevista foi feita no passado dia 31 de Agosto no Teatro Rivoli no Porto, dia em que a peça "O Comboio da Madrugada" estreou no Teatro Rivoli.
M.L: Como é que tem corrido a peça “O Comboio da Madrugada”?
L.M: Tem corrido muito bem. Nós estivemos em Cascais, durante 3 meses e meio. No princípio era só para ser um mês e meio, mas correu tão bem, tínhamos sempre tanto público que acabou por alargar. Foi ótimo. Nós temos um elenco fantástico, damos todos muito bem e eu acho que isso é muito importante para o trabalho correr bem. Correu muito bem, espero que corra tão bem aqui como correu em Cascais.
M.L: A peça vai passar por outros locais, depois da sua passagem no Porto?
L.M: Eu acho que não. Em princípio que eu saiba não, mas não sei.
M.L: Como é que surgiu esta peça?
L.M: Bem… eu não sei como é que surgiu. A tradução é do meu avô e ele fez de propósito para a minha avó fazer, mas foi há uns anos e entretanto eu fiz a escola do Carlos Avillez e houve uma altura em que o Carlos Avillez me disse: “Vamos fazer “O Comboio da Madrugada” e eu quero que tu faças a Blackie (Frances Black)” e eu na altura disse que sim. Eu ainda estava na escola e quando acabei a escola arrancamos com a peça. Não sei como é que surgiu esta peça.
M.L: “O Comboio da Madrugada” é encenada por Carlos Avillez com quem já trabalhou anteriormente. Como é trabalhar com ele?
L.M: Muito bom. Eu trabalhei anteriormente na escola, não tem nada a ver. Ele era meu professor, foi meu professor, durante 3 anos… É um trabalho completamente diferente, eu ainda estou a aprender… Aqui isto é real, eu tenho que fazer aquilo que ele quer na altura. É um trabalho muito mais rígido, mas tem sido ótimo.
M.L: Qual é a personagem que interpreta nesta peça?
L.M: Sou a Blackie (Frances Black), a secretária da Sr.ª Goforth. A Sr.ª Goforth dita-lhe as memórias e eu escrevo-as e portanto edito-as e trabalho-as. Esse é o meu papel principal. De resto, ela é um bocadinho a razão da Sr.ª Goforth. Ela leva muito à razão, porque a Sr.ª Goforth é uma personagem péssima, é uma mulher muito amarga e a Blackie tenta leva-la à razão, porque gosta muito dela e quer que tudo corra pelo melhor.
M.L: Como classifica a sua personagem?
L.M: Eu adoro-a. É a minha personagem. É uma mulher fria, é uma secretária daquelas… É uma mulher fria que perdeu o marido e por isso vem dar-lhe mais razões de ser uma mulher fria e vive ali no meio da montanha com a Sr.ª Goforth, vive isolada com o resto dos empregados, por isso é que a entrada deste rapaz ali é uma coisa muito nova e muito boa. Pelo menos para a Blackie acha que vai ser uma coisa boa, a chegada do Chris.
M.L: Esta é a primeira vez que contracena com a sua avó, a Eunice Muñoz. Como é contracenar com ela?
L.M: É ótimo. É muito cómodo, porque nós temos uma grande ligação uma com a outra e acho que é mais simples trabalhar com alguém com quem temos esta ligação e em quem podemos confiar. Eu posso confiar tudo nela e eu acho que ela pode confiar em mim e é muito mais fácil trabalhar assim. Claro que é o peso da responsabilidade. É a minha avó, a Eunice Muñoz e eu tenho que estar um bocadinho à altura, um bocadinho só, mas tem sido ótimo. Ela é fantástica.
M.L: Como tem sido a reação do público a esta peça?
L.M: Tem sido muito boa. Eu acho que as pessoas gostam imenso e chamam mais público, falam entre elas para vir mais pessoas. Tem sido ótima. Acho que sim, acho que tem gostado muito. Espero que sim.
M.L: A peça é um original de Tennessee Williams. Como classifica esta peça?
L.M: Eu gosto muito da peça. É uma peça que poderia ser perfeitamente de agora, acho que podia exatamente haver uma senhora numa montanha a viver agora isto. É uma peça muito atual. Eu gosto muito da peça, eu gosto muito do Tennessee Williams, por isso…
M.L: Recentemente integrou o elenco da telenovela “Mar de Paixão” (TVI) que também contou com a participação da sua avó da qual interpretou a vilã Luísa Noronha. Como correu este trabalho?
L.M: Correu muito bem. Eu adorei. Para começar, foi a primeira vez que eu fiz televisão e foi muito bom. Eu não trabalhei com a minha avó, ela estava de um lado (dos pescadores)… exatamente eu era a Luísa Noronha, era a secretária do vilão. Ela fazia ali umas coisas muito más, mas foi muito bom. Foi uma experiência ótima.
M.L: “Mar de Paixão” marcou a sua estreia na televisão. Como é que se sentiu ao entrar numa produção televisiva?
L.M: Foi muito bom. Não tem nada a ver com o teatro. Nós no teatro temos os ensaios, temos uma preparação, ali é tudo na altura. É muito mais rígido, mas é tão bom. Eu gostei muito.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
L.M: Essa pergunta toda a gente me faz. Isso é muito difícil de responder, porque foi uma coisa tão natural. Acabei o 9º ano, cheguei à casa e disse: “Bem, eu agora não sei o que vou fazer. Vou para a escola de teatro. Acho que sim”. Eu acho que foi naturalmente, não foi uma coisa que eu tivesse pensado muito. Foi natural, eu passava muito tempo no teatro com a minha avó e sempre adorei teatro, sempre fui ao teatro desde miúda e foi uma coisa que aconteceu.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto atriz?
L.M: Não sei. São tantas. Acho que as minhas maiores influências são as pessoas, é toda a gente que passa na minha vida e que me ajuda no meu trabalho. Não sei, é difícil responder a isso.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
L.M: Não sei. É a minha vida. A minha vida é toda passada no teatro. Eu ali vejo tudo, vejo o passado, vejo o presente… Tudo acontece no teatro como acontece na televisão, mas mais no teatro. Tudo passa por aqui.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
L.M: Gostava, mas eu gosto muito de estar aqui. Eu gosto muito de Portugal, eu gosto muito de trabalhar aqui, gosto muito da minha língua. Não sei, se surgir mais tarde claro que sim, mas por enquanto quero estar aqui.
M.L: Houve algum momento que a tenha marcado até agora, enquanto atriz?
L.M: Este momento, este espetáculo.
M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava de trabalhar no futuro?
L.M: Não sei, nunca me tinham perguntado isso. Gostava muito de trabalhar com o Albano Jerónimo, com o Marco D'Almeida (que são atores que gosto muito), com a Maria José Paschoal… Não sei, eu admiro todos os atores. Eu acho que nós somos tão bons, nós achamos que não, mas nós temos tantos atores bons e nós somos tão bons. Eu acho que sim.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.M: Agora vou para o Conservatório (Escola Superior de Teatro e Cinema), vou começar o Conservatório em Outubro. Entretanto, tenho uma peça para fazer que é um projeto meu e de um amigo meu, mas pretendo avançar com esse projeto o mais depressa possível, enquanto estou a fazer o Conservatório. Fazer à noite o espetáculo.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
L.M: Cinema, gostava muito de fazer cinema. Eu ainda não fiz.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
L.M: Nada, está tudo perfeito na minha vida agora.
M.L: Se não fosse a Lídia Muñoz, qual era a atriz que gostava de ter sido?
L.M: Eu acho que ninguém, eu gosto de ser eu. Eu gosto de ser eu, gosto de aprender. Eu gosto de ser eu, não quero ser ninguém.ML
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