M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
D.C: O interesse pelo
jornalismo surgiu muito cedo ainda na escola secundária. Desde muito pequeno
que eu achei graça a ideia de poder contar histórias ou querer relatar aquilo
que acontecia na própria escola. Eu só sonhei ser duas coisas na vida: piloto
de aviação e jornalista. Não consegui ser piloto de aviação, porque a
matemática trocou-me as voltas muito cedo. Continuei a gostar de aviões, mas a
minha tendência para as letras revelou-se muito rapidamente, e logo no 9º ano
os meus professores disseram-me que tinha que seguir Humanidades, porque a
minha tendência eram as letras e não os números.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
D.C: Eu não tenho uma
influência direta de pessoas, no fundo gosto mais de referenciar escolas ou
formas de fazer, mas gosto muito da forma de trabalhar dos anglo-saxónicos,
acho que são muito diretos e procuram explorar bem a imagem e o som. No fundo,
a minha grande escola de jornalismo foi a Agência Lusa e eu aprendi a ser
realmente sintético e ir direto ao assunto, a não adjetivar e tentar perceber
imediatamente qual é o cerne da história e ficar por aí sem distrair muito as
pessoas.
M.L: Como jornalista, trabalha, essencialmente, na
televisão. Gostava de ter trabalhado mais na rádio e na imprensa?
D.C: A minha carreira
começou na rádio, portanto foi aí que eu acabei por entrar no mundo do
jornalismo a sério, e depois fiz uma transição para a Agência Lusa e durante
muitos anos acabei por trabalhar simultaneamente na rádio, na Agência Lusa e para
jornais, portanto o meu início de carreira desenvolveu-se muito nessas áreas. A
televisão acabou por surgir quase como um acidente na minha vida, nunca foi um
objetivo, nunca tive intenções de trabalhar na televisão, estava longe disso, porque
a rádio era a grande paixão da minha vida até que um dia me convidaram a vir
para a RTP, portanto foi um tropeção agradável. Mas quando entrei no mundo televisivo
percebi que era a minha “água” e adaptei-me muito facilmente à linguagem do
audiovisual e agora naturalmente é aquela que eu gosto mais e já não consigo
ver sem estar a trabalhar no audiovisual e na televisão que é o meio que mais
me cativa neste momento.
M.L: Na televisão, trabalha, atualmente, na RTP. Que
balanço faz do tempo em que trabalha no canal?
D.C: Eu faço um balanço
muito positivo. Porque acho que consegui interiorizar o que é o essencial da
comunicação televisiva e acho que consegui de alguma forma criar empatia com os
espectadores. Dentro da RTP, grande parte do meu tempo é passado a fazer
apresentação, também já fiz muitas reportagens obviamente, portanto acima de
tudo consegui fazer muita coisa e consegui fazer um percurso no sentido de
chegar a um ponto, onde consigo fazer aquilo que verdadeiramente gosto que é
apresentar, mas também falar dos assuntos que me atraem nomeadamente Tecnologia
e Internet.
M.L: A RTP existe, desde 1957. Como vê o percurso que
o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
D.C: Eu acho que a RTP tem
seguido um caminho que os serviços públicos em toda a Europa têm seguido. Houve
uma primeira fase em que o serviço público teve uma importância muito grande do
ponto de vista da ligação dos portugueses, de formação inclusivamente mostrar o
Mundo. Obviamente que a partir dos anos 80 as coisas mudaram muito, o mercado
abriu-se para os canais privados, o Mundo mudou com a Internet, e todo este
percurso e a todos estes novos desafios a RTP tem sabido adaptar-se, embora com
muitas dificuldades obviamente, mas como todas as empresas. Eu acho que o
percurso da RTP tem sido sustentado.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso como jornalista?
D.C: O que mais me marcou
profissionalmente e humanamente foi o trabalho que eu fiz em Timor-Leste em
(19) 99, porque foi uma experiência profissional longe de casa e durante muito
tempo, mas ao mesmo tempo foi uma experiência humana muito forte, muito rica e
muito impactante, porque todo aquele processo de Timor-Leste e o tempo em que
eu estive na Indonésia, em Timor e depois na Austrália fez com que a minha
perceção do Mundo ficasse um bocadinho indiferente e nomeadamente em Timor a
situação foi complexa, porque havia um lado humano e um lado jornalístico e os
dois tiveram que se juntar e criar uma barreira e uma resistência para que o
trabalho pudesse ser feito. Jornalisticamente, foi muito exigente, porque era
um trabalho feito sem condições de sobrevivência, portanto foi muito difícil de
trabalhar e depois enfrentar uma realidade de sofrimento e de sobrevivência
também das pessoas. Em termos humanos e jornalísticos, foi um desafio muito
grande.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
D.C: Os órgãos de
Comunicação Social vivem o problema que o país vive e nós temos um mercado
publicitário muito pequeno (70% ou 80% do investimento publicitário é em
televisão), portanto é muito difícil que os outros órgãos de Comunicação Social,
os jornais e as rádios se mantenham. A pressão é muito grande em termos
orçamentais, o que faz com que depois tenha que haver muita criatividade para
ter conteúdos, mas a falta de dinheiro faz com que não haja grande investimento
em trabalho de fundo, porque fazer jornalismo ou programas é muito caro. Temos
que ter essa noção e é um investimento a médio-longo prazo e o que nós fazemos
constantemente é investir a curto prazo, portanto temos que preencher antena,
páginas de jornais e como não há dinheiro para produzir mais não é possível
produzir tanto e tão bem como todos gostávamos e acho que isso é uma frustração
global. Apesar de todas estas dificuldades, eu acho que os meios de Comunicação
Social continuam a estar atentos, vigilantes, a transmitir as alegrias, a
contar as histórias que fazem um exemplo e a fazer também alguma espécie de
vigilância sobre os poderes políticos.
M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira
há vários anos?
D.C: Eu gosto de lidar com
o público e acho que há pessoas que estão na comunicação e que pensam mais
neles ou nos conteúdos do que propriamente no público. Eu gosto de pensar no
contrário, gosto de cada vez que olho para a câmara olhar para uma plateia e
saber que há ali pessoas do outro lado que me estão a ouvir e que estão
eventualmente atentas às histórias que lhes vou contar. Eu gosto de conversar
com as pessoas, de falar para as pessoas e a ligação que a Internet e as redes
sociais nos trouxeram permitiu que eu possa ter feedback.
M.L: Tem dedicado a sua vida profissional no Porto.
Gostava de ter passado a viver e trabalhar em Lisboa?
D.C: Eu comecei em
Bragança e fui para Lisboa e depois vim para o Porto por razões pessoais e
adaptei-me bem ao Porto. A minha vinda de Lisboa para o Porto foi uma opção e
como adaptei ao Porto e aqui acabei por desenvolver a carreira e criar no fundo
as raízes para o trabalho que estou a fazer não vi até hoje a necessidade de
sair. Não vejo isso como redutor.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do jornalismo?
D.C: Ponto 1 - Gostar de
contar Histórias e olhar para o Mundo de uma forma diferente.
Ponto 2 - Preparar-se muito bem.
Técnica e tecnologicamente. Porque, hoje em dia, é preciso saber dominar muitas
ferramentas para poder inserir-se numa redação.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como jornalista?
D.C: Eu faço um balanço
positivo, porque já fiz de tudo, já contei todo o tipo de histórias, já tive
histórias que denunciaram situações injustas, histórias que felizmente mudaram
a vida de pessoas para melhor, e a evolução que fiz foi no caminho de procurar
entrar na área e num setor e numa especialização daquilo que eu gosto, portanto
depois de fazer um percurso generalista cheguei a um ponto em que faço
realmente aquilo que gosto numa empresa fantástica.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
D.C: Passar uma semana numa estação especial
internacional (gargalhadas).ML
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