M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
L.A: À parte umas incursões pelo teatro amador, o Teatro apareceu
a sério na minha vida por um convite do ator Carlos César, Diretor da Companhia
do TAS-Teatro Animação de Setúbal. Entrei na companhia avisando que seria
apenas uma experiência e uma forma de subsidiar a continuação dos estudos e
aliviar um pouco o orçamento familiar mas… fui ficando! Fiz o estágio de dois
anos e ganhei a condição de profissional.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
L.A: Várias. Lembro-me de
ouvir na rádio as rábulas do Raul Solnado e divertir-me bastante, do humor dos
“Parodiantes de Lisboa” que era um ritual ouvirmos à hora de almoço, dos filmes
do (Charlie) Chaplin, dos Irmãos Marx, do Mel Brooks, entre outros! E tive o
privilégio de trabalhar com alguns colegas com quem aprendi bastante: a Ivone
Silva e o Camilo de Oliveira, foram importantes dentro de um género como a
Maria Dulce, o Nicolau Breyner, o Ruy de Carvalho, o Armando Cortez, o Morais e
Castro foram importantes dentro de outros géneros.
M.L: Faz, essencialmente, teatro e televisão. Gostava
de ter trabalhado mais em cinema?
L.A: Sim, gostava. O Cinema tem uma linguagem própria que gostava
de praticar mais vezes. Fiz apenas um filme com o Jorge Paixão da Costa, “Ladrão
Que Rouba a Anão Tem Cem Anos de Prisão” (1992), com Vítor Norte, Nicolau
Breyner, Cristina Areia, Luís Esparteiro, entre outros e foi uma experiência
muito enriquecedora.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso como ator?
L.A: É difícil escolher
apenas um trabalho já de todos, de uma forma ou de outra nos marcam por uma
razão qualquer. Mas… talvez o meu trabalho na peça “Piaf” de Pam Gems, uma
produção do Casino Estoril, com um elenco de extraordinários atores, encabeçado
pela atriz brasileira Bibi Ferreira. Nesse Trabalho, que girava à volta da vida
dramática e do percurso artístico da cantora francesa, eu desempenhava o papel
de “Charles Aznavour”! Talvez possa destacar esse papel, por sair do meu
registo mais conhecido e pela intensidade da composição que foi necessária.
M.L: Em 1994, participou na telenovela “Na Paz dos Anjos”
que foi exibida na RTP, na qual interpretou a personagem Fernandinho. Que
recordações guarda desse trabalho?
L.A: As melhores, posso dizer! Foi a primeira telenovela em que
participei e, por sorte, trabalhei com um elenco de grandes atores que muito me
ajudaram no meu trabalho. Foi um privilégio trabalhar com o Armando Cortez, a
Fernanda Borsatti, a Maria José, o João Perry, a Sandra Faleiro, a Rita
Ribeiro, entre muitos outros colegas de elevado prestígio.
M.L: “Na Paz dos Anjos” foi corealizada pelo falecido
realizador brasileiro Regis Cardoso. Como foi trabalhar com ele?
L.A: Há pessoas que passam pela nossa vida e deixam um rasto de
luz! O Regis Cardoso era uma dessas pessoas. Paciente e generoso, com um fino
sentido de humor. Um inquestionável excelente profissional com as mais altas
qualidades humanas.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
L.A: Nos últimos tempos tem praticamente sobrevivido por conta
própria! E tenho a convicção de que nada mudará enquanto os agentes políticos
não entenderem a Cultura como um dos pilares fundamentais para a afirmação e
consolidação da nossa identidade coletiva nesta Era que é a da globalização. Que
nos interessa ter o Fado como Património Imaterial da Humanidade, se a minha
Pátria não for a Língua Portuguesa, como afirmou (Fernando) Pessoa?
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
L.A: Não é, nem foi e nunca foi uma ambição particular fazer uma
carreira internacional. Mas, já que fala disso, gostaria que os artistas e as
produções nacionais tivessem os mesmos direitos e as mesmas garantias de proteção
que têm os colegas estrangeiros. Desde logo, uma carteira profissional que
dignificasse a nossa profissão.
M.L: Como lida com o público que acompanha sua
carreira há vários anos?
L.A: O público português é muito generoso, afável e de uma grande
envolvência! Tenho o privilégio de termos criado empatia e isso ajuda não só na
carreira como também na motivação profissional.
M.L: Em 1991, cofundou a produtora Cartaz-Produção de
Espetáculos, que tem desenvolvido um trabalho no que diz respeito à
descentralização teatral. Como vê o percurso que a produtora tem feito, desde a
sua fundação até agora?
L.A: Ao longo dos 20 anos de trabalho quase ininterruptos posso
afirmar que temos um percurso que nos orgulha. Esse trabalho de descentralização
teatral só tem sido possível graças aos profissionais que, de forma permanente
ou pontual, colaboram connosco e aos agentes culturais, empresas, e
Instituições que apostam no nosso trabalho.
M.L: Recentemente, participou na série “Agora a Sério”,
que foi produzida pela RTP Porto. Na sua opinião, acha que a RTP Porto devia
produzir mais produções de ficção no futuro?
L.A: O que lhe posso adiantar é que houve um grande investimento
na formação profissional na área da produção audiovisual que deveria ser mais
aproveitada. A Série “Agora a Sério”, produzida pela RTP Porto, deu provas,
tanto da excelência da formação, como das competências técnicas dos jovens que
passaram pela Academia RTP.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
L.A: Que invista numa boa formação técnica. A Indústria Cultural
é muito competitiva e cada vez mais exigente e hoje, felizmente, há uma oferta
grande de escolas e uma diversidade de modelos formativos.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como ator?
L.A: Muito positivo. Tirando alguns períodos pontuais em que
estive parado, tenho tido, felizmente, sempre um trabalho e muito dele
realizado em projetos diversos e com registos diferentes, o que me tem
assegurado não só a subsistência pessoal como a aprendizagem e a evolução
profissional.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.A: No teatro prosseguir com a atividade da empresa na produção
e promoção de teatro e na televisão, continuar a fazer parte da família
“Bem-vindos a Beirais” (RTP). Vamos agora iniciar mais uma temporada de
gravações.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
L.A: Viajar com tempo e sem um destino pré-definido.ML
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