M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
M.R: Sempre que me fazem
esta pergunta, costumo contar uma pequena história. Num certo Natal, quando era
criança - com 5 ou 6 anos - pedi uma prenda "especial": um rádio.
Embora, ainda hoje, goste muito de ouvir música, não era esse o principal
objectivo, na altura. Mas, sim, o facto de o rádio ter também um microfone! Assim
que desembrulhei a prenda, comecei logo a fazer pequenas
"entrevistas" à família e aos amigos. E, até hoje, recordo este
episódio como o primeiro sinal daquela que viria a ser a minha profissão:
jornalista.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
M.R: São muitas e é difícil
enumerar todas. Lembro-me de assistir ao "nascimento" da SIC e de ter
a Alberta Marques Fernandes como uma das grandes referências. Gosto muito da
postura e do profissionalismo de pivots
como a Clara de Sousa e Rodrigo Guedes de Carvalho, da SIC, do João Adelino Faria
e Carla Trafaria, da RTP, e do José Alberto Carvalho e Judite de Sousa, da TVI.
Também acompanho com atenção o trabalho de inúmeros jornalistas de todos os
canais. A um nível mais pessoal, valorizo todas as experiências em cada uma das
redacções por que passei. Na rádio, comecei na Rádio Horizonte Tejo -
actualmente, Rádio Horizonte FM - onde aprendi como se escreve uma notícia,
grava um "RM" (Registo Magnético) ou edita um noticiário. De seguida,
senti necessidade de evoluir profissionalmente e fui estagiar para a TSF onde
aprendi como funciona uma agenda de redacção e tive as primeiras experiências
jornalísticas a nível nacional. Depois, percebi que a minha paixão era,
realmente, fazer televisão. Estagiei na TVI, sobretudo, no departamento
multimédia e, em seguida, na SIC, onde tive a oportunidade, mais tarde, de
ficar a contrato. Considero que a SIC foi a minha grande "escola",
onde comecei a fazer jornalismo a sério, onde fui - como se costuma dizer na
gíria da profissão - "atirada aos bichos". Tive a sorte de ter um
coordenador, em particular, que apostou em mim, o Daniel Cruzeiro, e me deu a
oportunidade de fazer "estórias" para a equipa de fim-de-semana, que
me marcaram e recordo até hoje. A partir daqui, nunca mais parei. Colaborei com
o Expresso online e, alguns meses
depois, comecei a trabalhar para uma produtora chamada Companhia de Ideias,
onde, durante 2 anos, produzi e coordenei conteúdos para vários
programas da RTP, como o "Diário da Europa", "Mais Europa",
"Sociedade Civil" e "Grandes Livros". De seguida, surgiu o
convite para a Benfica TV: comecei como repórter, tive a grande estreia como pivot e, alguns meses depois, tornei-me
coordenadora de redacção. Recordo, com carinho, um dos maiores desafios que
tive naquela casa: coordenar a emissão especial da final da Taça da Liga, no
Algarve, onde o Benfica ganhou ao Sporting, já nos penaltis! Desde 2009,
trabalho no Económico TV onde tenho evoluído como jornalista, sobretudo, nos
conteúdos económicos e financeiros, e como pivot,
não só de informação diária, como de debates, fóruns ou grandes entrevistas,
como faço no programa "Conversas com Vida". O Económico tem também,
há quase 2 anos, uma parceria com a RTP através da qual os jornalistas fazem
análise de mercados financeiros para o "Bom Dia Portugal" (RTP1) e
"Jornal das 12" da RTP Informação. Este tem sido um grande desafio,
que abraço com muito gosto.
M.L: Como jornalista, trabalha, essencialmente, na
televisão. Gostava de trabalhar mais em outros meios de comunicação como, por
exemplo, a rádio?
M.R: Como referi, anteriormente,
já trabalhei em rádio, mas continuo a sentir-me mais "em casa" na
televisão. Gosto da necessidade de rapidez, do imediatismo, dos directos, do
trabalho em equipa, de poder contar com todas as pessoas - tão importantes -
que estão nos "bastidores" como a produção, a realização, os repórteres
de imagem, editores, continuidade, maquilhadoras, entre tantos outros! É
difícil apontar o que não gosto! É verdade que, muitas vezes, é duro ter de
chegar à redacção às 5h ou 6h da manhã, preparar entrevistas e programas em
casa, carregar tripés às costas (para ajudar os repórteres de imagem a
"dividir o mal pelas aldeias"), lidar com um nível de stress elevado... Mas, como diz o ditado,
"quem corre por gosto, não cansa". Ou - diria eu - cansa-se menos!
M.L: Na televisão, trabalha, actualmente, no canal
Económico TV, que pertence ao jornal Diário Económico. Que balanço faz do tempo
em que trabalha no canal?
M.R: Faço um balanço muito
positivo. Quando cheguei, há 5 anos, tinha uma escassa experiência em assuntos
económicos. Hoje em dia, estou perfeitamente à vontade com temas como o
Orçamento de Estado, a execução orçamental, a crise na Banca, o mercado
accionista, os juros da dívida, o programa de ajuda externa, etc. Claro que,
boa parte desta aprendizagem, devo a todos os meus colegas, coordenadores e
directores com quem tenho aprendido e troco ideias todos os dias. Mas, para
além disso, ser jornalista é ter de estudar um pouco todos os dias: ler muitos
jornais, pesquisar informação adicional, tirar dúvidas com economistas e
analistas de mercado... É um esforço diário para tentar ser cada vez melhor. E
é também isso que me dá um imenso prazer!
Para além dos conteúdos,
também tenho experimentado outros formatos como pivot. Na Benfica TV, já tinha apresentado telejornais e fóruns de
opinião, mas, no ETV, tenho a oportunidade de moderar debates e fazer grandes
entrevistas. Destaco, por exemplo, o facto de ter entrevistado Pedro Passos
Coelho, quando era candidato à liderança do PSD ou António Pires de Lima, antes
de ser nomeado ministro da Economia. No programa "Conversas com Vida"
também tenho tido oportunidade de conhecer e conversar com figuras de renome,
de todos os quadrantes da sociedade portuguesa, desde a Simone de Oliveira, ao
Comendador Rui Nabeiro, passando pelo psiquiatra Júlio Machado Vaz ou pelo
ex-ministro Bagão Félix, entre muitos outros.
Para além disso, voltei a
escrever para um jornal - o Diário Económico - com alguma frequência, o que é
muito positivo, para mim, enquanto jornalista, já que tenho a oportunidade de
exercitar outro tipo de escrita diferente da linguagem da televisão.
M.L: O Económico TV existe, desde 2010. Como vê o
percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
M.R: O ETV tem evoluído,
enquanto canal de referência no segmento de economia e mercados financeiros, e
tem também conquistado outro tipo de público, menos habituado a estes temas.
Isso nota-se, sobretudo, no programa "Assembleia Geral", um fórum
onde os telespectadores participam ao telefone, via e-mail ou Facebook. De alguma forma, penso que o ETV encontrou uma
oportunidade na crise porque, com o programa de ajuda externa, alguns conceitos
aparentemente difíceis, que passavam despercebidos à maioria dos portugueses -
como os juros da dívida, as novas soluções na Banca ou o Ecofin, em Bruxelas -
passaram a fazer parte do dia-a-dia de todos nós.
Como qualquer canal
"jovem", acredito que o ETV ainda tem uma grande margem para crescer
e alcançar a notoriedade do "irmão" Diário Económico, um jornal de
referência com 25 anos de existência.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
durante o seu percurso como jornalista?
M.R: Foram vários e espero
ter muitos mais! Lembro-me, por exemplo, de uma reportagem que fiz na SIC sobre
dois irmãos deficientes profundos, que viviam sozinhos, depois da mãe ter
falecido, entregues à própria sorte. A Segurança Social tinha sinalizado a situação,
mas estava longe de resolvê-la. Assim que a SIC emitiu a reportagem, o caso foi
logo solucionado: os irmãos foram encaminhados para uma instituição, onde
ficaram a viver de forma digna e, em segurança. É, nestas alturas, que sinto
que o jornalismo tem poder para mudar o Mundo. Nem que seja o Mundo de alguém!
Quando fiz os programas
"Diário da Europa" e "Mais Europa" para a RTP, através da
Companhia de Ideias, acompanhei, em reportagem, toda a presidência portuguesa
da União Europeia. Lembro-me, por exemplo, de ter ido a uma cimeira com a
Rússia, onde estava Vladimir Putin e a outra com os Estados Unidos, onde
participaram Tony Blair, como enviado especial da UE, e Condoleezza Rice, então
secretária de estado de George W. Bush. Ambas com elevados níveis de segurança,
com helicópteros a sobrevoar a zona e snipers
nos telhados. Na cimeira com os EUA, houve um episódio caricato. Eu estava
junto às barreiras de protecção, a tentar "abrir caminho" pelo meio
dos outros jornalistas, quando vejo uma pessoa, aparentemente perdida, sem ter
por onde passar. Era Tony Blair! Ainda consegui trocar duas ou três palavras
com ele e indicar-lhe o caminho correcto. Mas, sobretudo, fiquei em êxtase por
estar ali, cara a cara, com o antigo primeiro-ministro britânico. Parecia que
tinha visto o Brad Pitt!
No ETV, tive oportunidade de
ir à Estónia, quando aderiu à zona euro e foi muito interessante conhecer uma
realidade e uma cultura ainda muito influenciada pela Rússia. Muitas
entrevistas que tenho feito no ETV também me têm marcado pela positiva. Às
vezes, até, de forma mais emotiva, quando ouço histórias de vida tão ricas e
preenchidas. Outras, pelo desafio de ter de entrevistar alguém mais
"difícil", de ter de "arrancar" uma declaração, uma notícia.
Mais recentemente, voltei
a sentir aquele "friozinho" no estômago - típico do "nervoso
miudinho" - quando fiz o primeiro directo para a RTP no âmbito da parceria
com o Económico. Mas são nervos bons, daqueles que valem a pena sentir!
M.L: Como vê, actualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
M.R: A comunicação social,
tal como o país, está em crise. E, inevitavelmente, preocupa-me. Claro que, em
quase todas as estruturas, é possível eliminar desperdícios, fazer "mais
com menos". Mas tem de haver limites. Acredito que é preciso dar
oportunidade aos mais jovens - como eu tive, quando comecei há 14 anos - mas a
experiência dos mais velhos não pode ser descartada. Na minha opinião, é
preciso haver meritocracia em muitas empresas, em Portugal, e não falo só da
comunicação social. É necessário valorizar o bom trabalho - a qualidade, não a
quantidade - e os melhores profissionais. Acredito também que uma liderança,
que dá o exemplo, é determinante em qualquer empresa. Costumo utilizar, com
frequência, uma frase que a minha mãe costuma dizer: "para saber mandar, é
preciso saber trabalhar".
M.L: Em Agosto de 2008, frequentou o curso “Guionismo-A
Estrutura em 3 actos, o diálogo e as personagens” que foi promovido pela
Nextart. Gostava de, um dia, apostar numa carreira na área da escrita?
M.R: Sempre gostei muito de
escrever, desde criança. Quem sabe, um dia, escrevo um livro! Depois, só fica a
faltar plantar a árvore e ter um filho!
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do jornalismo?
M.R: Muito trabalho, muita
dedicação, persistência e espírito de sacrifício. Muito "amor à
camisola", vontade de aprender e humildade. E, antes disso tudo, ter a
certeza - absoluta - de que quer mesmo ser jornalista. Não vale a pena entrar
na profissão porque quer "ser famoso" ou aparecer na televisão. Isso
não é jornalismo.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como jornalista?
M.R: Felizmente, tenho
tido a sorte de conseguir manter-me na área desde que comecei. Gosto de
acreditar que tenho, também, algum mérito. Sou muito exigente com o meu
trabalho - e com o dos outros - e muito perfeccionista. Acho sempre que posso
fazer melhor e não gosto de me sentir estagnada, por isso, preciso de ter, com
frequência, novos desafios. Comecei como repórter, tornei-me também pivot há cerca de 7 anos e tive a
oportunidade de coordenar equipas em duas redacções: Companhia de Ideias e
Benfica TV. Na minha opinião, o maior desafio de ter um cargo de chefia não é
distribuir trabalho, mas sim, gerir pessoas, com diferentes experiências e
sensibilidades. Perceber as capacidades de cada um dos membros da equipa, saber
potenciá-las e dar-lhes margem de evolução e, ao mesmo tempo, identificar as
dificuldades e ajudar a ultrapassá-las. Depois, é necessário ter também
"inteligência emocional": perceber quando o colega está num dia bom
ou mau, saber fazer críticas construtivas e, sobretudo, saber elogiar.
Comecei a trabalhar muito
jovem e já sou jornalista há 14 anos, 10 dos quais em televisão. Não foi sempre
um "mar de rosas". Claro que há dias difíceis, em que até nos passa
pela cabeça "mudar de vida". Mas nunca quis - nem quero - desistir da
profissão. Acredito que ainda tenho muita margem para crescer e evoluir e
espero que surjam mais oportunidades.
M.L: Quais são os seus próximos projectos?
M.R: Em paralelo com o meu
trabalho de jornalista no Económico, também dou media trainings, com
alguma frequência. Para quem não sabe o que é, trata-se de ensinar e
"treinar" pessoas a lidar com jornalistas, por exemplo, a saberem o
que responder e como estar durante uma entrevista. A exposição mediática
continua a ser mais associada à classe política ou a responsáveis de empresas,
mas, hoje em dia, é extensível a quase todas as áreas. Não há uma segunda
oportunidade para criar uma primeira boa impressão.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
M.R: A nível profissional, quero continuar a trabalhar
em televisão e gostaria que a minha carreira pudesse evoluir para outros
patamares. Confesso que, por vezes, sinto falta de alguma meritocracia, mas
acredito que, um dia, vai chegar. Até lá, vou continuar, todos os dias, a dar o
meu melhor.MLA pedido da entrevistada, esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.
Fotografia: David Carvalho
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